Frustrações Olímpicas


A “Olimpíada das Olimpíadas”. Faltam apenas dois meses, dois meses para a abertura dos jogos, Rio 2016. Há poucas semanas do evento portentoso, evento que chamará a atenção de todo o mundo para as nossas belezas e mazelas, encantos e amarguras, pouco se diz sobre qual será o legado da “Olimpíada das Olimpíadas”. Menos ainda é dito sobre o fato de estarmos tão próximos do maior evento esportivo internacional.

Quebrando o silêncio que impera nos meios de comunicação nacional sobre os jogos olímpicos, afogados em meio aos escândalos e à crise econômica, o Estadão publicou matéria recente sobre decisão do COI, o Comitê Olímpico Internacional. O COI decidiu recentemente adiantar parte dos US$ 1,5 bilhão que viriam em agosto para ajudar a cobrir os gastos da cidade maravilhosa com o evento. Disse Thomas Bach, presidente do COI, que a decisão fora um “gesto de solidariedade”, maneira elegante de reconhecer o estado lastimável das contas públicas do estado e do município do Rio de Janeiro. Forma gentil de alertar para o fato de que há muitos ingressos que ainda não foram vendidos – é possível, vejam só, encontrar ingressos para a final olímpica do futebol – além de novos patrocinadores que não foram encontrados. A penúria dos orçamentos do Comitê Organizador, da Autoridade Pública Olímpica, não foi citada diretamente pelo cortês dirigente do COI.

Qual o impacto das Olimpíadas para a cidade do Rio de Janeiro, para o País? Há literatura vasta sobre o tema, muitos artigos acadêmicos que tentam destrinchar as verdades escondidas por detrás do “glamour” dos jogos, da propaganda, das palavras dos governantes. O que todo esse trabalho mostra é que as razões que levam um País, uma cidade, a pleitear o título de anfitriã das Olimpíadas, têm pouca ou nenhuma relação com argumentos econômicos. Estudo recente de autoria dos economistas Robert Baade e Victor Matheson publicado na última edição do Journal of Economic Perspectives diz, com clareza: “A conclusão contundente é que na maioria dos casos, as Olimpíadas geram perdas expressivas para as cidades-anfitriãs. Sobretudo quando essas cidades pertencem aos países menos desenvolvidos”.

Pensemos no caso do Rio de Janeiro, município cujo déficit como proporção das despesas correntes líquidas alcançou exorbitantes 17% ao final de 2015. Estudo comissionado pelo Ministério dos Esportes e preparado pela USP diz que para cada US$ 1 de investimento, o País terá retorno de US$ 3,3 até 2027, que o impacto sobre o PIB do País poderá alcançar a extraordinária cifra de 2% do PIB, que cerca de 120 mil empregos serão criados, anualmente, até 2027. Recorrendo à evidência internacional, Baade e Matheson (2016) afirmam que uma boa regra de bolso para avaliar o real impacto das Olimpíadas sobre a economia é pegar o que dizem governos e organizadores e mover tudo uma casa decimal para a esquerda. Se fizermos isso com o ganho de 2% do PIB estimado pela USP, concluímos que o melhor que se pode esperar é ganho de 0,2% do PIB, número que não chegaria a pódio algum.

O custo. Originalmente, as Olimpíadas estavam orçadas em US$ 13,7 bilhões, montante reduzido para US$ 11 bilhões quando o governo federal, responsável por mais de dois-terços das obras de infraestrutura para os jogos, percebeu que não conseguiria dar conta do recado em meio à recessão e aos imensos problemas do País. Ainda não será dessa vez que o metrô do Rio será concluído. A quantia de US$ 11 bilhões representa, ao câmbio de hoje, cerca de 0,6% do PIB brasileiro. Contudo, dizem Baade e Matheson, geralmente os custos excedem em 150% aqueles anunciados pelo governo. Acreditando nos economistas, somei. Cheguei a um custo final de US$ 16 bilhões, ou cerca de 0,9% do PIB brasileiro. Se subtraírmos do ganho esperado de 0,2% do PIB os custos de 0,9%, as Olimpíadas haverão de deixar-nos prejuízo de 0,7% do PIB, ou uns R$ 42 bilhões. Mais perdas em País cujas contas estão mergulhadas em território profundamente vermelho.

Chegamos, portanto, à devastadora conclusão. A Olimpíada das Olimpíadas trará o prejuízo dos prejuízos. Mais uma para a conta de D. Rousseff.