Recuperação é tênue, mas começa assim


A economia brasileira deverá começar a crescer neste primeiro trimestre de 2017, na avaliação de Eduardo Loyo, economista-chefe e sócio do banco BTG Pactual. A perspectiva é sustentada em sintomas que apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ainda neste trimestre, em relação aos três últimos meses de 2016.

Para ele, esses sinais são como “brotos verdes” de recuperação, que estão nascendo e devem ser cuidados. “Brotos verdes são assim: eles são delicados. A gente tem de torcer e cuidar para que eles cresçam e floresçam”, disse Loyo, que mediará um debate com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na CEO Conference, evento promovido pelo BTG Pactual de terça a quinta-feira em São Paulo.

Apesar de “tênues”, os sintomas de crescimento serão ajudados por inflação menor, juros em queda e reformas na economia, diz.

Dá para ver o fim da recessão?

Acredito que estamos chegando perto. A virada do ano trouxe uma sensação muito melhor do que a gente tinha ao longo do segundo semestre do ano passado, a respeito, em primeiríssimo lugar, de inflação. Havia um pessimismo muito grande a respeito da possibilidade de que a inflação caísse, convergisse para o centro da meta. Naquela época, a reclamação principal que se fazia a respeito do Banco Central era de que ele tinha escolhido um objetivo ambicioso demais, que era chegar aos 4,5% (a meta fixada pelo governo) já agora em 2017. De lá para cá, essa coisa evoluiu de tal maneira que as pessoas hoje, quando querem reclamar que o Banco Central pode estar sendo conservador demais, dizem que, agora, o objetivo está tão fácil que ele não precisa ser tão cauteloso como precisava ser antes.

Isso é trabalho do BC ou da queda da demanda na recessão?

Uma parte do trabalho do Banco Central foi, mesmo com a recessão, manter uma política monetária cautelosa, não se desesperar para abreviar a recessão a qualquer custo e acabar não colhendo esses resultados desinflacionários que está colhendo.

São esses resultados que levam ao fim da recessão?

Nós também vemos um ou outro sintoma de início de recuperação. São sintomas ainda tênues e pontuais, mas recuperação, em geral, começa assim.

Quais são os principais sintomas da recuperação?

São duas coleções. Uma são coisas que começamos a ver no mercado de trabalho. A taxa de desemprego continua alta e em elevação, mas, quando olhamos para a dinâmica do emprego e da renda, já vemos alguns dados mensais de que a destruição de emprego no setor formal foi menor do que se esperava. No setor informal e por conta própria, que vinha numa destruição de emprego muito rápida, isso se reverteu e voltou a geração de emprego. Isso tudo abre caminho para que você possa estar vendo alguma recuperação de massa salarial real.

E qual é o segundo ponto?

São coisas na indústria. Quando você olha para o desempenho da produção industrial agregada, o que se vê é ainda uma coisa que vai de lado, um mês sobe, o outro cai. Mas quando você abre esses dados nos seus componentes, alguns setores da indústria já estão numa sequência de desempenho positivo de crescimento. Você enxerga também fenômenos específicos, a primeira etapa do fim do ajuste de estoques, o que já eleva o nível de atividade nesses setores. Há também indicação de crescimento de importações de insumos para a produção.

Isso basta?

São brotos verdes. Brotos verdes são assim: eles são delicados. A gente tem de torcer e cuidar para que eles cresçam e floresçam. O início é sempre assim. Uma árvore não nasce já forte e robusta.

Qual a diferença disso para a alta da confiança ano passado?

Os dados agora são de fato. Não simplesmente algo que nos leva a crer que as coisas vão melhorar como produto da melhora da confiança. Esses brotos são consistentes com o que se teria imaginado que deveria ser o ‘timing’ em que a economia atingiria o seu ponto mais baixo e começaria a se recuperar.

A saída da recessão faz parte de um ciclo?

Com base em recessões anteriores minimamente parecidas com essa – porque igual nenhuma foi –, teríamos imaginado que o ponto mínimo (da economia) seria em torno da virada do ano. Nós esperamos crescimento, na comparação com o quarto trimestre, no primeiro trimestre do ano.

Juros em queda ajudam?

Evidentemente, fazem diferença, mas porque é uma redução dos juros com a inflação ancorada, sem que as pessoas vejam a redução dos juros e já comecem a se perguntar quando vão subir de novo.

A política pode atrapalhar?

Estou acreditando que essa agenda de reformas que está no Congresso vai ser bem-sucedida. As dúvidas que as pessoas expressam são absolutamente legítimas, mas são as mesmas que se expressavam em relação a passos nos quais o governo já foi bem-sucedido. Antes de se ver aprovada a emenda constitucional do teto dos gastos, havia muita gente que era cética em relação a isso. Preocupados nós estamos, mas o cenário parece ser positivo para a agenda de reformas.

O governo erra ao manter déficit e só olhar no médio prazo?

Não posso demonstrar que seria melhor um cenário ou uma estratégia outra qualquer, mas o que a gente está fazendo de avanço é tão impressionante que, em vez de insistir em estratégias diferentes, eu preferia me concentrar em que a gente tenha sucesso na estratégia que foi adotada.

É uma escolha política?

Uma parte disso talvez tenha sido o aprendizado com o que foi tentado anteriormente (em 2015, no segundo governo Dilma Rousseff, com Joaquim Levy). Estávamos tentando anteriormente um ajuste fiscal imediato, na medida do possível, e priorizando isso em relação a qualquer tentativa de ajuste fiscal de natureza mais estrutural. Não tivemos muito sucesso naquela estratégia.

Como explicar recessão tão grande?

A recessão foi grande o suficiente para que haja espaço para que muitas coisas tenham contribuído, mas foi muito importante o que houve de sensação de que a casa estava ficando muito desarrumada, de que havia muitas políticas geradoras de ineficiência, ou que eram claramente insustentáveis. O crescimento de ineficiências e da percepção de que as políticas eram insustentáveis foi muito danoso para a atividade econômica.