Inflação: onde estamos?


As expectativas (base 19/08/2022) para 2022 estão em 6,82% para o IPCA, o que está acima da meta para o ano, que o CMN fixou em 5% (3,5% +1,5% de tolerância).

Caso, de fato, a meta se perca em 2022, será o segundo ano consecutivo em que o presidente do BC terá de dirigir uma Carta aberta ao Ministro da Fazenda explicando as razões do descumprimento e o que será feito para consertar.

Mas, como é comum de ocorrer com os números da economia, não é bem o que parece, as notícias são boas.

As expectativas para 2023 estão em 5,33%, para uma meta (teto) de 4,75%, e para 2024 em 3,41%, para uma meta de 4,50%. Tudo em taxas anuais.

Em bancocentralês, isso costuma ser descrito como “expectativas ancoradas”, isto é, o mercado financeiro espera que a inflação vá convergir para a meta talvez mesmo em 2023.

Descontrole nem pensar.

Portanto, as expectativas vêm melhorando nas últimas semanas, o que está em linha com o que se passa em termos globais: a inflação cedeu diante da ação coordenada dos principais bancos centrais do planeta, no Brasil inclusive.

É certo que o Brasil teve que aplicar mais medicamento (juro) do que os BCs do Primeiro Mundo, mas não terá sido por crueldade, mas porque o organismo econômico brasileiro, mercê de nosso passado, é obviamente diferente daquele da Nova Zelândia, e precisa de mais remédio para o mesmo efeito.

Ótimo que o nosso BC tenha tido a independência para fazer o que tinha que ser feito.

A inflação americana para 2022 deve ficar na faixa de 9% enquanto a da Argentina em 90%, e aqui se encontra a maior novidade: a inflação brasileira está mais parecida com as de Primeiro Mundo do que com as de Argentina e Venezuela.

Deu muito trabalho para sairmos da Conmebol, nesse assunto de inflação, e entrar para a Premier League. Foi uma longa adolescência monetária, repleta de excessos, mas passou, já vão mais de 25 anos. Já ultrapassamos muitos testes desde então, e no presente momento estamos vencendo mais um, o de subjugar um surto inflacionário no meio de uma eleição.

Tudo graças à construção institucional iniciada em 1994, quando reconhecemos que a inflação é uma doença da moeda, e começamos a arrumar a casa seguindo a medicina convencional.

Cada governo que se seguiu colocou um tijolinho nesse edifício. Mesmo que alguns tenham atirado umas pedrinhas na vidraça, o que temos hoje é muito sólido.

É claro que doenças erradicadas podem sempre voltar, se formos suficientemente irresponsáveis, ou ingênuos. O inflacionismo nunca morre.