O País precisa encarar o problema da concentração de renda


Num país tão desigual quanto o Brasil, é preciso ter uma visão “um pouco mais de esquerda”, diz o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

“Não é uma esquerda de ditadura do proletariado, estatização dos meios de produção. Não é isso. Mas ter um sistema tributário onde os ricos pagam 5%, 10% de IR, isso está errado”, diz o economista, fundador da Gávea Investimentos.

Na sua visão, a reforma tributária foi um passo importante, mas insuficiente para resolver as distorções do modelo brasileiro. “Ainda tem muita barbaridade no nosso sistema”, disse a Nilton Bonder neste episódio do The Business of Life.

Presidente do BC durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), Arminio vê a concentração de renda como um dos grandes desafios do País.

“A concentração de renda precisa ser encarada como um problema. E tem várias dimensões. Uma delas, que é a pobreza extrema, vem sendo abordada, sobretudo com o Bolsa Família. Mas temos de ir além.”

A solução, para ele, depende de um Estado mais eficiente e serviços públicos de qualidade. Nesse sentido, as reformas são imprescindíveis.

“A reforma administrativa está entrando no radar. Se for razoavelmente bem feita, pode significar um grande avanço.”

Doutor em economia pela na Universidade de Princeton, Fraga alternou sua carreira entre o mercado financeiro, o governo e a academia. Nos Estados Unidos, trabalhou com o megainvestidor George Soros e no banco Salomon Brothers. No Brasil, foi da equipe do Garantia.

Em 1991, comandou pela primeira vez uma das diretorias do BC e, oito anos depois, assumiu a presidência.

Seu diagnóstico atual sobre o Brasil é de que há progressos, mas muito mais espaço para melhorar. “Precisamos de uma macroeconomia mais calma, com menos incertezas. Estou vendo o ministro Haddad muito isolado, com uma certa dificuldade.”

Para ele, o BC faz um “trabalho bem feito”, mas precisa de apoio para conseguir controlar a inflação. “O cara sozinho não está conseguindo empurrar essa pedra ladeira acima. Precisa de um empurrãozinho do fiscal.”

Arminio defende ainda que a “economia verde” deveria ser um dos pilares de desenvolvimento do Brasil. “É uma vocação nossa e está ao nosso alcance.”