Pedro Parente critica baixa autonomia na gestão da crise hídrica


O presidente da Petrobras no governo Michel Temer e ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso, Pedro Parente, criticou a baixa autonomia dos ministros e integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro para enfrentar a crise hídrica.

Durante participação no podcast do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, Parente relembrou seu período à frente do grupo que administrou a crise de energia de 2001. “A confiança do presidente em mim e no meu trabalho foi fundamental para a gestão da crise de energia. É impossível fazer um trabalho desses com o atual presidente da República porque ele não delega nada para ninguém. Ele se usa dos ministros e das pessoas enquanto lhe convém e, quando não lhe convém mais, ele se desfaz imediatamente. Pior do que isso, dois dias depois de convidar alguém para ser ministro já desautoriza em público, coisa que para mim não funcionaria de maneira nenhuma”, disse.

A preocupação com o cenário para o fornecimento de energia elétrica voltou aos holofotes recentemente, dado o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas atualmente. O período chuvoso que se encerrou em março deste ano foi marcado pelo pior histórico de afluência do Sistema Interligado Nacional (SIN) desde o início da série histórica.

No podcast, Parente lembrou que, além da autonomia, o diálogo aberto com a sociedade e a transparência sobre o tema foi um dos pontos cruciais para que a população aderisse ao racionamento voluntário de energia em 2001, e evitasse cortes compulsórios. Ele também citou a criação de uma câmara de gestão de crise com representantes de diferentes órgãos e ministérios, além de um representante dos Estados, como crucial para o sucesso no enfrentamento do problema.

“Eu trouxe a visão de que se precisaria de uma coordenação central desse tema, que não era só um tema do Ministério de Minas e Energia. A gente pode fazer uma ligação direta do que aconteceu e ainda acontece no Brasil por causa da [pandemia de] covid, ou seja, esse não é um tema só do Ministério da Saúde, é muito mais amplo”, afirmou.

Parente, que é sócio fundador da gestora EB Capital, destacou que a autonomia também foi crucial em seu período à frente da Petrobras. O executivo ocupou a presidência da petroleira entre junho de 2016 e junho de 2018, com o objetivo de reduzir o endividamento da companhia e auxiliar na recuperação após os impactos da Operação Lava Jato.

“Expliquei que não ter poderia ter interferência política, que tinha que ter autonomia na gestão da empresa, portanto, a política de preços é assunto da empresa. Foi na mesma linha de autonomia e autoridade”, explicou Parente sobre os requisitos para aceitar o pedido do então presidente Temer para presidir a estatal. O executivo deixou o cargo durante a greve dos caminhoneiros.