Casa das Garças

Medidas de Trump

Data: 

28/04/2025

Autor: 

Gustavo Franco

Veículo: 

O Globo e O Estado de São Paulo

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Vistas aqui do Brasil, várias das falas, e mesmo algumas das medidas econômicas de Trump, soam bem familiares. Parece coisa de economia emergente, segundo se observou, da qual é típico tanto esse protecionismo raiz (as tarifas, e suas justificativas), quanto a diatribe contra o presidente do banco central.

É difícil conceber alguma medida muito heterodoxa, que já não tenha sido experimentada no Brasil. É como aquela sabedoria pela qual as ideologias, quando ficam velhas, vêm se aposentar no Brasil.

As encrencas de Trump com o seu banco central são exatamente como as que vimos aqui. O mandato do presidente do BC americano termina em janeiro de 2028, portanto, Trump terá Jerome Powel por três anos dentro da sua presidência. Lula teve dois de Roberto Campos Neto, ao qual dedicou muitas palavras malcriadas ao vento, com o intuito marqueteiro de criar um bode expiatório.

Tudo muito parecido, sendo que Lula poderia, em sua defesa, alegar que foi o primeiro presidente brasileiro nessa situação. Não Trump. É pura descortesia desnecessária, destinada a cair no esquecimento.

Talvez seja parecido com as medidas protecionistas de Trump, especialmente se permanecerem suspensas indefinidamente. Nesse (melhor) cenário, teria sido uma imensa descortesia com o mundo, só que meio difícil de esquecer.

O Brasil também teve a sua iniciativa protecionista no começo de 2024, com o programa Nova Indústria Brasil (NIB), que propunha o que se chamou de “neoindustrialização”.

As justificativas eram todas muito parecidas com as falas de Trump, mas o programa brasileiro não tinha nada de tarifas, talvez porque o Brasil não tenha mesmo mais o que aumentar nesse assunto. A NIB, em vez disso, mobilizará R$ 300 bilhões em financiamentos. É aí dentro que podem ser encontradas as “barreiras não tarifárias” de que falam os americanos, como a preferência para os nacionais nas obras e compras governamentais, os índices de conteúdo nacional nos projetos, por exemplo.

Muitos especialistas desancaram as pretensões de Trump referentes ao retorno da indústria como irreais, pois a globalização não poderá ser revertida, nem a China (ou o Sul Global) vai desistir da participação que veio a conquistar na atividade manufatureira global. Os memes foram ótimos.

Aqui no Brasil, em contraste, ninguém enxergou maiores reparos na NIB. Como se fosse protecionismo do bem, cujos termos serviram para acalmar os grupos de interesse hoje acantonados em discreto exílio no BNDES, oscilando entre o silêncio interessado e a indiferença atenta.

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