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Muitos fatores estéticos concorrem para o sucesso da primeira aparição do ministro da Fazenda: circunstância, tom de voz e “lineup”, por exemplo.
Fernando Haddad teve duas ocasiões preciosas para estrear, ambas ao lado de ministras estelares: uma com Tebet e Dweck, outra com Marina em Davos.
Não precisava “pacote”.
Primeiro porque 30 dias antes daquele dia 12 de janeiro, quando fizeram sua estreia, nenhum daqueles ministros imaginava que pudesse estar nessas funções.
Segundo porque como nenhum deles é do ramo, a “máquina” aproveitou a chance para vender seu peixe: uma lista semipronta de medidas, números e íntegras, com o apoio decidido dos procuradores, um indefectível power point, e lá vão os ministros para a sala de imprensa, um tanto vendidos.
O grande tema desse “pacote” não era fiscal. Era preciso regular a recriação do Ministério do Planejamento e sua participação em colegiados importantes para a política econômica, como o Conselho Monetário Nacional (CMN), e a sua Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (COMOC). Poderia ser um estrago sem tamanho se o governo resolvesse inovar nesse terreno, podendo inclusive alcançar o Copom e a delicada dinâmica do sistema de metas.
Também era preciso cancelar o efeito ruim de um vídeo do ministro em que ele confundia o CMN com a CVM, e demonstrava desconhecer a função de ambos os colegiados.
Reafirmar a governança da moeda era assunto suficiente para a primeira coletiva dos novos ministros: o novo CMN ia dar sentido prático a uma coalizão política que tem sido difícil de construir. Ao voltar ao desenho original do Plano Real, o CMN, com seus três membros, passa a reunir o PT, a 3ª via e o Banco Central do Brasil (BCB).
Foi bom ver essa trinca falando (o BCB em espírito) de equilíbrio fiscal, ainda que a partir de promessas (e medidas) vagas, assim colocando o CMN na posição de fiador da consistência entre responsabilidade fiscal e social.
Não era preciso acoplar ao evento as “medidas”, sobretudo considerando que, entre elas não tinha nada que não fosse requentado, coisas do governo passado, e rejeitos dos pacotes anteriores.
Parecendo percebê-lo, o ministro recorreu a uma estratégia arriscada: ele exibiu ceticismo quanto a seu próprio pacote e agradou em cheio. O ministro rumou para Davos deixando uma boa impressão apesar da baixa qualidade de um pacote que não era mesmo seu.
De volta a Brasília, duas tarefas impossíveis para lembrar como é a vida dos ministros da Fazenda: (i) controlar (na verdade combinar) as falas do presidente sobre economia; e (ii) fingir que está levando a sério as ideias loucas que vêm da Argentina, com o apoio do Itamaraty.
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