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Ex-presidente do Banco Central afirmou em evento que atual chefe da instituição terá de tomar ‘suco amargo’ ao apertar juros; para Galípolo, autoridade monetária não pode ‘cruzar linha’ e ‘transcender seu quadrado’
O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga disse nesta quarta-feira, 12, ao atual chefe da autarquia, Gabriel Galípolo, que a instituição precisa de ajuda da área fiscal para fazer seu trabalho e resumiu o quadro econômico atual dizendo que “a coisa não está bem”.
Galípolo participou na manhã desta quarta do seminário sobre Política Monetária Brasileira, promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio. Fraga estava na plateia.
“Eu acho que o problema, em última instância, é que o Banco Central precisa de ajuda. E só tem um lugar que pode ajudar, que é o fiscal”, avaliou o economista.
Ele citou, por exemplo, a alta inflação e as taxas implícitas, assim como a dívida do País na casa de 75% do Produto Interno Bruto (PIB), que está crescendo em alta velocidade. O economista afirmou, porém, que não arriscaria fazer projeções sobre o desempenho da economia.
“A coisa não está bem, mas o remédio funciona”, comentou sobre o resultado do aperto da política monetária, acrescentando que Galípolo, como presidente do Banco Central, vai ter de tomar um “suco amargo”.
O sócio-fundador da Gávea Investimentos sugeriu ao atual presidente do BC que, como uma pessoa de confiança das altas autoridades do País, possa tentar convencê-las de que não há mágica. “Isso que aconteceu até agora foi muito bom: o emprego estar baixo é um sonho, mas agora a festa meio que acabou”, considerou. Para o economista, não há um problema de comunicação no governo ou no BC. “O Banco Central não faz milagres, não é?”
BC não pode ‘cruzar linha’
Em sua fala, Galípolo destacou que o BC tem ferramentas para colocar a Selic em nível restritivo e seguir nessa direção. Ele manteve a linha das mensagens do Comitê de Política Monetária (Copom), com a indicação de mais uma alta de juro na magnitude de 1 ponto porcentual para março. Galípolo nada falou sobre maio, mas enfatizou a disponibilidade das ferramentas. “O BC tem as ferramentas para colocar juro em nível restritivo e seguir nessa direção.”
Segundo ele, no curto prazo, a inflação ficará fora da meta. Ele disse que poderá ocorrer uma desaceleração da economia e que o BC deve ser mais parcimonioso quando faz um movimento do juro para baixo.
“Temos assistido, e é normal que a partir de agora, todos os agentes de mercado passem a dar mais atenção para olhar os dados de atividade econômica, absolutamente normal. Mas como a gente comentou já na comunicação oficial, até porque esses dados são dados de alta frequência, eles apresentam uma certa volatilidade. Algumas vezes sensações de que aquilo estava representando uma tendência que depois não se confirmaram”, afirmou.
“Cabe agora o Banco Central ter a devida parcimônia e serenidade na observação desses dados, para que a gente tenha tempo suficiente para observar que qualquer tipo de situação que a gente tem acompanhado”, disse.
Ao falar do fiscal, ele disse que o “BC não pode cruzar a linha e transcender o quadrado da autoridade monetária”.
O presidente da autarquia voltou a enfatizar a necessidade de se avançar no aperfeiçoamento do arcabouço institucional e legal da instituição e disse que um dos grandes desafios para todos os Bancos Centrais é o da comunicação.
“O desafio da comunicação é enorme para todos os BCs. É quase uma arte”, disse. Ele afirmou ter dito essa frase ao cantor Caetano Veloso que, num encontro, teria lhe perguntado como era redigida a ata do Copom. Ao obter a resposta, de que as palavras eram cuidadosamente escolhidas, o compositor baiano teria inferido que seria mais ou menos como se escrever uma poesia.
“Certamente as pessoas não devem sentir o mesmo prazer que sentem lendo suas poesias ao ler a ata do Copom, mas há uma certa arte por trás (da redação dos comunicados do BC)”, disse.
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