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Desde as contribuições do inglês David Ricardo (1772-1823), os economistas desenvolveram uma teoria robusta sobre como a integração ao comércio internacional contribui para o desenvolvimento. Os países devem se especializar naquilo em que são mais produtivos. É o princípio das vantagens comparativas. Expostos à competição, os governos e os empresários precisam investir nos ganhos de produtividade – que é a fonte da criação de riqueza.
Atualmente, como afirma o economista Edmar Bacha, as grandes empresas trabalham com cadeias globais de valor: cada país se especializa em uma etapa de produção. Quem se isola do mundo e tenta produzir produtos tecnológicos de maneira autônoma, como foi o Brasil nos tempos de reservas de mercado na informática, fatalmente ficará para trás.
No estudo “Fechamento de comércio e estagnação: por que o Brasil insiste?”, Bacha relaciona doze casos de nações que conseguiram emergir de fato e atingir rendas médias de países ricos. A abertura comercial é um traço comum de todos eles. Foi assim com Coreia do Sul, Hong Kong, Israel, Singapura e Taiwan, cujo crescimento foi focado nas exportações industriais, com Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal, com exportações de serviços, e Austrália, Nova Zelândia e Noruega, com exportações de recursos naturais. O PIB per capita desses países é hoje de US$ 43 mil, quase o triplo do brasileiro (US$ 15 mil).
O Brasil, apesar de algumas iniciativas de redução de tarifas e barreiras, mantém-se como um dos países mais fechados do mundo: em 2018, a participação das importações no PIB foi de apenas 11,6%. É o menor valor entre os 164 países considerados pelo Banco Mundial.
Por que, afinal de contas, o Brasil insiste nesse modelo de atraso e baixo desenvolvimento? Bacha lista cinco razões possíveis:
Não é intuitivo que um país deva abandonar parte de sua produção e emprego para concentrar seus recursos em outros produtos e atividades cuja demanda depende do humor de estrangeiros. O protecionismo acaba sendo um prato cheio para políticos populistas à esquerda e à direita. Exemplos recentes, segundo Bacha, são o plano de comércio exterior baseado no princípio da America First de Donald Trump e os discursos de Dilma Rousseff conclamando a defesa do mercado interno contra a crise internacional. Afirma Bacha: “Só resta apelar para o ditado, segundo o qual água mole em pedra dura tanto bate até que fura, para tentar superar essa barreira cognitiva”.
Outra explicação é a oposição dos interesses constituídos. Os benefícios da abertura são difusos: são os consumidores de uma maneira geral e empresas e trabalhadores desacostumados com a ideia de exportar que dela se beneficiam. Por outro lado, as empresas que monopolizam o mercado interno e que perderiam com a abertura são politicamente poderosas, como ilustrado pela influência das associações, federações e confederações industriais nas decisões de política comercial do governo. Há barreiras também criadas por escritórios de advocacia e de engenharia, que não permitem a concorrência de firmas estrangeiras.
A terceira explicação é que os benefícios da abertura se materializam no longo prazo quando os recursos se deslocam para novas e mais produtivas ocupações. Os custos, por outro lado, são imediatos. Para que recursos econômicos sejam realocados de atividades pouco produtivas para outras mais produtivas, é preciso fechar fábricas e vagas de trabalho em alguns setores. Em sociedades que dão grande valor ao presente e menor valor ao futuro essa troca de desemprego hoje por empregos melhores no futuro tem pouca aceitação. Os benefícios não compensariam os custos da abertura.
Uma quarta explicação para a oposição à abertura deriva de uma leitura simplista da história econômica do país. Reza essa versão que o País progrediu no século XX com base na substituição de importações e na proteção às empresas nacionais, o que envolveu inclusive a criação de estatais e “campeões nacionais”. Mas, como argumenta Bacha, o modelo de substituição de importações deu relativamente certo quando o País passava pela urbanização, com migração intensa de trabalhadores do campo para a cidade. É uma fórmula esgotada e inadequada para a nova economia do século XXI.
Há uma quinta possibilidade a considerar, diz Bacha. Trata-se do possível otimismo das hipóteses de impacto positivo da abertura. A transição pode ser penosa, com muitos perdedores ao longo do caminho, uma consequência com efeitos políticos.
A política, com certeza, acrescenta uma barreira difícil de ser transposta. Diz Bacha: “Nos regimes democráticos, em que os políticos precisam dar respostas imediatas às agruras da população, a abertura pode simplesmente ser abortada. Foi o que ocorreu no Brasil a partir de 1995, quando, no contexto de uma sobrevalorização cambial, observou-se um retrocesso em relação à abertura de 1990 do governo Collor”.
Por isso, a abertura deve ser acompanhada de reformas amplas, que contribuam para destravar os investimentos e preparar as empresas e os trabalhadores para a transformação. O protecionismo não pode prevalecer, porque, se assim for, o País estará condenado à mediocridade.
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