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Após ler o livro “No País dos Contrastes – Memórias da Infância ao Plano Real”, pedi ao nosso decano das ciências econômicas em PE, o mestre Clóvis Cavalcanti, que me definisse melhor o autor dessa obra, o economista Edmar Bacha. Claro que como um imanente aprendiz de economista, sempre relevei o nome de Edmar Bacha ao panteão dos grandes pensadores da economia brasileira. Por essa e outras, seria honroso para mim escrever este texto com o respaldo da opinião de Clóvis. Seja pela sua importância similar como acadêmico e pesquisador. Ou mesmo, pela longa convivência e sólida amizade que mantém com Bacha. Uma história que começou num mero encontro de estudantes de economia aqui no Recife, passou pela Fundação Getúlio Vargas no Rio e culminou com a presença de ambos no curso de mestrado da Universidade de Yale.
A propósito, isto ê algo citado em várias passagens do livro, sobretudo, nos tempos de universidade nos EUA. Uma contemporaneidade que a dupla dividiu nas suas missões acadêmicas, através de estudos e boas agendas de enriquecedoras conversas com notáveis economistas. Aqui sejam destacados dois ilustres conhecedores da economia brasileira, dignos de todas referências: o ministro Celso Furtado e o “brasilianista” Werner Baer. Ambos, estudiosos do desenvolvimento econômico, da industrialização, da distribuição de renda e do subdesenvolvimento, temas impregnados ao processo econômico brasileiro.
Diante desse contexto, que caracteriza o ambiente acadêmico de Bacha, tão bem exposto em muitas passagens do livro, destaco que Clóvis não se omitiu em externar sua opinião sobre o amigo. E foi além no elogio: “da cabeça brilhante de Bacha – e um grupo de amigos de docência – deriva a maior obra de engenharia social já feita no Brasil: o Plano Real.” E Clóvis ainda arremata com uma conclusão de efeito meritório: “Bacha e o grupo ainda merecem o reconhecimento necessário que valide o Prêmio Nobel de Economia”.
Com a excelência dessa carta de apresentação para o meu texto, fico mais à vontade para externar uma admiração por Bacha, que para mim foi construída desde minha condição de estudante de economia. E claro que as primeiras evidências não poderiam deixar de estar ligadas às “fábulas bachanianas”, particularmente, a mais conhecida delas: a Belíndia. Mesmo que no livro Bacha não dê tanta evidência a ela, sua publicação, em 1974, já causou um impacto diferenciado no meio acadêmico, pelo modo literato de tratar um tema nebuloso do desenvolvimento econômico: a distribuição de renda. Mostrar por meio de uma fábula a convivência desigual entre uma pequena Bélgica (de alto padrão de renda) e uma grandiosa Índia (de padrão inferior), representou um mérito que lhe permitiu conquistar um lugar de destaque no pensamento econômico brasileiro. Creio que essa percepção contribuiu para legitimar lá atrás o “imortal” da ABL hoje. Da mesma maneira que, no atualíssimo “No Pais dos Contrastes”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz por ratificar essa tese, na sua apresentação do livro, quando diz textualmente que “ao fazer um inventário da sua obra, a boa escrita de Bacha parece sair de um literato, o que mostra não existir contradição entre ser bom técnico e saber escrever”.
Como o livro traz dois aspectos de suma importância para a história recente da economia brasileira, já os deixo aqui pautados para a próxima coluna, na sexta-feira. Afinal, não há como deixar de comentar sobre o protagonismo de Bacha quando os assuntos são os planos Cruzado e Real.
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