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A O Financista, ex-presidente do BC diz que governo Dilma lembra José Sarney no fim do mandato
Por: Conrado Mazzoni e Gustavo Kahil
SÃO PAULO – Em meio à maior depressão econômica documentada desde o início do século 20, o ex-presidente do Banco Central (1997-1999) e um dos sócios-fundadores da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, resume assim o quadro desolador: “O Brasil continua a ser o país do futuro.”
Em entrevista a O Financista, o economista, autor de 14 livros publicados, falou sobre os problemas causados por um “governo desastroso” que culminam em um “tempo perdido, que não se recupera”.
“Faço votos para que esta experiência lamentável de fracasso do `pensamento alternativo` seja como a dos `choques heterodoxos`, que foram banidos do dicionário das coisas sérias em economia”, afirma ele, que teve participação relevante na formulação do Plano Real (1994). Além de presidente do BC, Franco foi secretário adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda.
Veja, abaixo, a entrevista concedida por e-mail:
O Financista: Primeiro veio a Constituição de 1988, depois a abertura da economia no início dos anos 1990, a estabilização da moeda e a vitória sobre a inflação graças ao Plano Real e, mais recentemente, a ampliação das políticas sociais. Feita a contextualização, para onde o Brasil caminha agora?
Gustavo Franco: Caminharia para consolidar esses progressos, alguns dos quais pela metade ainda (instituições fiscais e dívida pública) e outros ainda muito no começo (abertura). A dívida pública é imensa, um peso enorme sobre o país, e o Brasil continua a ser o país mais fechado do mundo. Reformas de verdade no setor real, aquelas que vão mexer com a produtividade, como a trabalhista, tributária, além de abertura para valer, nem começaram. O Brasil continua a ser o país do futuro.
O Financista: Parte dos problemas fiscais parece decorrer de questões estruturais, mais ligadas à rigidez do gasto em meio a uma Constituição muito em favor do Estado de bem-estar social. Seria o caso de rever elementos da Constituição para garantir maior solidez das contas públicas? Como sanear a questão fiscal?
Franco: Não sei bem o que são essas coisas “estruturais” e misteriosas sempre a impedir a responsabilidade fiscal. O país teve superávit primário de 3,5% do PIB em média durante uma década (1998-2008): o que aconteceu em 2008 de tão “estrutural” para desarrumar a casa?
O Financista: O Banco Central está em dominância fiscal?
Franco: Sim, estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo.
O Financista: Há cerca de cinco anos, quando o entrevistei, o senhor comparou a política econômica do governo petista com um relógio quebrado (capaz de acertar a hora uma vez por dia) em alusão aos gastos do governo em tempos de crise. O que representam os rebaixamentos de rating do Brasil? Há o temor de retomada da “gastança” em caso de volta dos “anos de bonança”?
Franco: Acho que me enganei: é um relógio que marca as horas de forma errada, é pior do que ficar parado, pois não acerta nem mesmo uma vez. Faço votos para que esta experiência lamentável de fracasso do “pensamento alternativo” seja como a dos “choques heterodoxos”, que foram banidos do dicionário das coisas sérias em economia.
O Financista: Os anos de paralisia na atividade econômica reduziram drasticamente o PIB potencial? Quais as consequências?
Franco: O prejuízo permanente decorre de um tempo perdido, que não se recupera. O investimento que não se fez, em capital físico e humano, até pode ser feito no futuro, mas o atraso é para sempre.
O Financista: O Fed começou a subir o juro, ainda que de maneira gradual. Enquanto isso, o Banco Central Europeu e o BC japonês continuam a estender as políticas monetárias expansionistas. Essa descoordenação pode criar algum tipo de distorção prolongada nos mercados internacionais?
Franco: Não creio. São movimentos tectônicos que já surtiram seus efeitos, que não são relevantes para nós. Nossos problemas são domésticos, causados por um governo desastroso que vai produzir a maior depressão econômica desde quando as contas nacionais começaram a rodar no início do século 20.
O Financista: Pensando na hipótese de que o Brasil continua sem ajuste fiscal, apenas com uma coisa ou outra, como vamos chegar em 2018? E qual será o passo inicial de um novo governo?
Franco: Tudo leva a crer que vamos para uma espécie de “feijão com arroz”, à semelhança do que foi a segunda metade da presidência José Sarney, quando o governo não tinha poderes, nem imaginação para enfrentar a crise e, em razão disso, preferiu submergir na rotina do dia a dia e não inventar nada. Era uma forma de vestir como opção a ausência de opções, ou de disfarçar o fato de que o governo tinha se esgotado antes do fim de seu mandato. É o que temos agora.
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