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Daqui a sete dias, o Reino Unido decidirá pela permanência ou não na União Europeia. O plebiscito, que há poucos meses parecia destinado a deixar a ilha unida ao continente, pode levar a Inglaterra ao rompimento histórico por razões não muito bem compreendidas. Opiniões abundam sobre o que pode estar levando britânicos a essa portentosa ruptura – das vacilações dos líderes europeus aos custos de permanecer na UE, da imposição de novas regras para o funcionamento do sistema financeiro à crise migratória que assola o continente. Há, de fato, muitas razões para elencar. Contudo, o que parece mover a população da ilha, mais do que tudo, não é a reflexão pausada sobre esses temas. O que parece mover a população britânica é o medo.
Medo de que o terrorismo islâmico radical cruze suas fronteiras. Medo de que milhares de refugiados sírios possam gerar no Reino Unido os mesmos problemas que têm gerado no continente. Medo, sentimento que supera a racionalidade, sempre. Afinal, a comunidade muçulmana no Reino Unido é imensa – se há radiciais, eles já estão por lá. Além disso, não há razão qualquer para acreditar que a permanência na UE aumente os riscos de milhares de refugiados virem a bater na porta dos britânicos. Tal risco independe do fato de estar o Reino Unido inserido ou não na UE.
Mas o medo não se rende facilmente aos argumentos de maior substância. O medo busca sempre alguma saída para se auto-justificar. Consideremos, pois, os argumentos econômicos que deveriam realmente amedrontar. Trata-se a União Europeia de um grande acordo multi-regional, acordo que facilita transações comerciais, investimentos, o trânsito de pessoas, o deslocamento de insumos produtivos, grau de homogeneidade regulatória que facilita a atividade econômica. Cerca da metade das exportações do Reino Unido destinam-se ao continente europeu, o que significa que se a decisão pela saída vingar, exportações, empregos, e a atividade econômica em geral haverão de sofrer imenso baque. Não é só isso. Londres é, desde muito, centro financeiro internacional, superando em volume transacionado e importância global outros centros financeiros europeus. Uma eventual saída do Reino Unido da UE certamente teria efeito funesto sobre o status de Londres como centro financeiro de tamanha relevância. Os serviços financeiros, é bom lembrar, são importantíssimo componente do PIB britânico.
Há mais. Os EUA, o maior mercado individual para as exportações britânicas, estão negociando com os europeus a Parceria Trans-Atlântica de Investimentos, ou TTIP, a sigla em inglês. Verdade que as negociações estão avançando muito lentamente, e que há obstáculos expressivos para a sua concretização. Sobretudo com o espectro das eleições americanas e as declarações do candidato republicano Donald Trump contrárias aos acordos de comércio e investimentos com outros países. Porém, suponhamos que o TTIP avance e que a Inglaterra saia da UE. Por certo, isso afetará de modo perverso a situação privilegiada de que hoje gozam as exportações britânicas no mercado americano. O que fará o Reino Unido? Tentará negociar acordo bilateral de comércio com os EUA? Os mesmos EUA que já disseram estar empenhados nos acordos multi-regionais, em detrimento dos bilaterais?
E o que dizer dos tais custos que a Inglaterra deixaria de pagar caso decidisse sair da UE? Tome-se, como exemplo, as experiências da Noruega e da Suíça. Esses dois países não pertencem à UE, portanto economizam alguns custos. No entanto, são obrigados a contribuir substancialmente para o orçamento da UE a fim de que possam obter o livre acesso ao mercado comum europeu. Além disso, os dois países têm por obrigação adotar padrões e regulações estabelecidas por Bruxelas para exportar para a Europa. Ou seja, ao não pertencer à UE, esses países não têm influência sobre as decisões que determinam custos, regulações, padrões. Porém, têm de arcar com eles do mesmo modo se quiserem ter acesso aos mercados do continente, posição inferior a que hoje tem o Reino Unido. Dito de outro modo, caso saia da UE e queira continuar exportando para a Europa, o Reino Unido até poderia reduzir alguns custos, mas abririam mão do poder de influenciar como as regras e padrões são formulados e estabelecidos. Troca-se o ativismo pela aceitação passiva.
Será mesmo que faz sentido?
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