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O crescimento da economia brasileira de 1900 a 1980 pode ter sido superestimado, de acordo com um trabalho que revê dados utilizados atualmente como referência para o período.
Os novos cálculos são apresentados pelos economistas Edmar Bacha, Guilherme Tombolo e Flávio Versiani no artigo “Reestimando o crescimento do PIB do Brasil de 1900 a 1980”, publicado no site do Iepe/Casa das Garças.
Para o período de 1900 a 1947, um estudo do final da década de 1970 do economista Claudio Haddad estimou um crescimento médio de 4,4% ao ano, revisto agora pelos três pesquisadores para 4%.
Para os anos de 1947 a 1980, as estimativas históricas para o PIB foram realizadas pela Fundação Getúlio Vargas, que apontou um crescimento anual de 7,4%. O cálculo de Bacha e dos colegas mostram expansão de 6,2%.
Para todo o período de 1900-1980, o estudo reduz a estimativa para a taxa de crescimento anual do PIB de 5,7% para 4,9% —ainda assim, acima da estimativa de 3,2% para a média da economia global no mesmo período.
“Este artigo argumenta que os números atualmente aceitos superestimam o crescimento do PIB do Brasil de 1900 a 1980”, afirmam os economistas.
A principal razão para o resultado mais forte no passado foi a utilização de uma metodologia que privilegiou no cálculo atividades produtoras de bens de maior crescimento, em detrimento de atividades de serviços de menor desempenho. Entre elas, despesas do governo, intermediação financeira e aluguéis.
Em alguns casos, os cálculos anteriores consideram que essas atividades cresceram à mesma taxa de outras que registraram melhor desempenho.
Desde 1986, o cálculo do PIB é feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com uma série histórica retroativa a 1980.
Entre as consequências da revisão está a avaliação de que o país cresceu menos durante o período de industrialização por meio de substituição de importações em meados do século passado.
O crescimento durante o chamado “Milagre Econômico” (1968-1973) da Ditadura Militar também estaria superestimado, principalmente por causa de uma mudança metodológica adotada em 1969 que mudou a contabilização dos serviços com menor crescimento.
Os autores também afirmam que os novos cálculos devem levar a uma revisão dos números para o século 19, que é apontado como um período de queda na renda per capita brasileira frente à renda global, processo que teria sido revertido de 1900 a 1980, segundo dados do projeto Maddison —base de dados criada pelo economista britânico Angus Maddison (1926-2010) e continuada pela Universidade de Groningen, na Holanda.
“Acreditamos que parte dessas extraordinárias quebras estruturais é ilusão estatística”, afirmam os pesquisadores.
Eles irão publicar neste ano um artigo com novas evidências estatísticas sobre a economia brasileira no século 19 mostrando que o desempenho do país foi melhor do que o calculado pelo projeto Maddison.
O artigo será apresentado por Bacha nesta quinta (29) em evento na Academia Brasileira de Letras, dentro do ciclo de conferências sobre o bicentenário da Independência do Brasil, na palestra “Que PIB é este? Por uma releitura da economia brasileira nos séculos 19 e 20”.
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