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Governo novo, vida nova? O povo brasileiro merece. Além de uma administração proba, o que os brasileiros querem está bem expresso nas manifestações de rua, nas redes sociais e nas pesquisas de opinião pública. Boas oportunidades de trabalho e bens e serviços acessíveis e de boa qualidade. Principalmente na saúde, educação, segurança, transportes, comunicações e serviços financeiros.
Tem analista dizendo que não tem jeito, porque acha que o povo quer que o governo proveja tudo isso, e de graça. Claro, há manifestações por gratuidade na saúde, nos transportes, na educação.
Também havia, porém, manifestações por congelamento de preços quando a inflação era galopante. No Plano Cruzado, de 1986, foi isso que o governo ofereceu: um congelamento temporário de preços que durou apenas até as eleições daquele ano. O Plano Cruzado foi uma resposta populista a um anseio da população pelo fim da carestia. Não funcionou.
O que funcionou, oito anos depois, foi um programa bem explicado para a população brasileira e negociado com o Congresso Nacional. Foi o Plano Real, que primeiro equilibrou as contas públicas, em seguida unificou os reajustes de preços e salários. E só então introduziu uma nova moeda, que se mantém estável até os dias de hoje.
Como ocorreu no combate à hiperinflação, hoje também há dois caminhos para atender aos anseios da população por bons empregos, mercadorias e também serviços de qualidade. Um deles é a via populista, quando se abrem as comportas do Tesouro Nacional para, em seguida, precisar controlar os preços em uma tentativa vã de evitar a explosão inflacionária.
Essa ameaça está presente, quando o novo governo Michel Temer cede às pressões por aumentos salariais do funcionalismo e renegocia as dívidas dos governos estaduais sem contrapartidas relevantes. É um caminho que não vai dar certo, como não deu no passado.
O caminho que funciona é mais complexo. Envolve em primeiro lugar restabelecer a confiança da população no equilíbrio das contas públicas – como ocorreu no Plano Real. A desvinculação das receitas da União e o estabelecimento de um teto para os gastos públicos vão nessa direção. Outras medidas, como a reforma da Previdência, precisam vir em seguida.
O equilíbrio das contas públicas é necessário para assegurar a estabilidade, mas é insuficiente para garantir vida nova. Há muito que fazer. O foco deve estar na retomada dos investimentos e no aumento da produtividade. Dois passos são essenciais. Um amplo programa de concessões e privatizações e um audacioso projeto de abertura da economia ao comércio internacional.
O novo governo parece comprometido com as privatizações e as concessões. É preciso, contudo, saber como se vai mover das boas intenções para a execução desse plano. A privatização da Companhia de Saneamento do Rio de Janeiro (Cedae) será um teste importante.
Porta-vozes do novo governo também têm demonstrado entusiasmo com a negociação de acordos comerciais com nossos principais parceiros. Essa atitude é bem-vinda, mas precisa ser complementada pelo reconhecimento de que a integração da indústria brasileira às cadeias internacionais de valor requer o desmonte da proteção tarifária e dos requisitos de conteúdo nacional.
Só assim conseguiremos ter bons empregos e bens e serviços de qualidade nos lares brasileiros.
*SÓCIO FUNDADOR EDIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA/CASA DAS GARÇAS
Av. Padre Leonel Franca, 135, Gávea
Rio de Janeiro/RJ – Brasil
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