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DAVOS – A vinda do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, foi um passo importante para reconquistar a confiança do mercado. A avaliação é do economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. Em entrevista ao GLOBO, ele disse que o ministro pode até não ter convencido todos os investidores, mas começou uma aproximação com os agentes econômicos: “O trabalho é vir e falar uma, duas, três vezes. Aí você vai ganhando”. Goldfajn comentou a decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros em 14,25% ao ano. Para ele, a medida foi acertada, mas a forma como o BC comunicou o processo não foi adequada.
Alguns participantes do Fórum de Davos que acompanham o Brasil avaliam que o ministro Nelson Barbosa não convenceu o mercado. O que o senhor achou da atuação dele?
É cedo para mudar (a avaliação dos investidores). A situação internacional não está boa. Ele é uma pessoa que está no governo há muito tempo, participou do primeiro mandato (da presidente Dilma Rousseff), estava no Ministério do Planejamento. Não dá para falar qualquer coisa e achar que está tudo resolvido.
Mas o senhor acha que valeu a pena o esforço de vir ao Fórum?
Gostaria de passar uma visão positiva. Quando o ministro vem para cá, as pessoas veem. O fato de ver a pessoa dá uma certa proximidade. Ele vem, fala, as pessoas entendem. De longe, as pessoas podem fazer uma ideia errada. Não vai ser um sucesso instantâneo porque a situação está difícil. E não é no Brasil, é no mundo todo. Mas vindo para cá, falando, mantendo uma certa frequência, isso ajuda. O trabalho é vir e falar uma, duas, três vezes. Aí você vai ganhando.
A Argentina ofuscou o Brasil?
Essa é a lua de mel deles. Mas é bobagem dizer que um ofuscou o outro porque a Argentina e o Brasil não ocupam o mesmo espaço. A Argentina é um país relevante, as pessoas estão vendo a Argentina de volta aos mercados, mas o Brasil é um Bric, um player internacional, o tamanho é diferente. Não jogam na mesma liga. Para Davos, o Brasil é um Bric, um mercado interno com 200 milhões de pessoas.
Qual foi o humor dos investidores em relação ao mercado brasileiro?
O investidor está olhando o melhor momento de entrar (no mercado brasileiro). Alguns querem ter presença no Brasil, sabem que é um bom negócio, mas querem saber quando. Se entram agora e o mundo entra em recessão por mais dois ou três anos, é ruim. Eles querem entrar no fim da recessão. O problema é que eles querem a resposta de algo que a gente não tem condições de dar.
O que o senhor achou da decisão do Banco Central de manter a Taxa Selic em 14,25% ao ano?
Não subir os juros é uma decisão que achamos apropriada. Subindo os juros hoje, você ganha pouco na inflação e tem muita incerteza em relação a outras questões, como o crescimento global. A gente já estava achando que, entre o ganho marginal na inflação e outras consequências, era o momento de dar um tempo.
Muitos consideraram equivocada a estratégia do BC de comunicar às vésperas do Copom que levaria as projeções do FMI sobre a economia global em conta na hora de definir a Selic. O que o senhor achou?
Bancos centrais podem mudar de opinião, mas a capacidade de comunicar essas mudanças é muito relevante. (O BC) poderia ter sido um pouco mais aberto a caminho da decisão. Deveria ter dado um espaço um pouco maior para que o mercado tivesse ficado mais em dúvida (em relação à decisão do Copom). A economia estava em recessão, a economia mundial não está bem há algum tempo. Era razoável ter indicado há um ou dois meses que a decisão (de subir ou não os juros) poderia ser mais aberta. E se o BC decidiu que poderia mudar (a trajetória dos juros por causa da recessão), deveria ter anunciado o mais rápido possível. Talvez deixar para o último dia não tenha sido o mais apropriado.
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