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Nascido em Haifa e formado em economia pela PUC-RJ, com mestrado e doutorado na área, Ilan Goldfajn teve parte de sua educação no Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Israelita Brasileiro A. Liessin e participou de movimentos juvenis judaicos. Presidente do Credit Suisse Brasil, ele foi também presidente do Banco Central, de 2016 a 2019. Em setembro de 2021, ele foi nomeado diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional – função que assumiu em 3 de janeiro deste ano e um dos cargos mais importantes do FMI em Washington, responsável pelo acompanhamento da política econômica dos países membros da entidade nas Américas, entre eles os Estados Unidos e o Brasil. Em entrevista à CONIB, ele falou sobre a sua carreira de sucesso, como economista, judaísmo, antissemitismo e deixou uma mensagem aos jovens: “Estudem, se aprofundem no que fizerem e tenham a certeza de que colherão frutos”.
Origem
Minha família emigrou da Polônia. Foram duas levas diferentes: por parte do meu pai vieram antes da Segunda Guerra e se instalaram no Brasil, enquanto a família da minha mãe acabou vindo após a Segunda Guerra. Vieram como refugiados, após conseguirem escapar do Holocausto. Da Polônia fugiram para a Rússia e depois voltaram e foram levados para um campo de refugiados na Áustria e acabaram vindo para o Brasil mais tarde, depois da Segunda Guerra. Minha mãe nasceu no Cazaquistão e veio ainda pequena para o Brasil. São duas famílias de origem polonesa que emigraram para o Rio de Janeiro. Trabalharam sempre com comércio, com compra e venda de imóveis. Meus pais participaram de movimentos juvenis judaicos, como o Hashomer Hatzair, e fizeram aliá na década de 1960. Foram morar em Israel num kibutz e lá ficaram pouco tempo, por dois anos, quando decidiram se instalar na cidade, em Haifa, que foi onde nasci. Meu pai nasceu aqui no Brasil e minha mãe chegou ao País ainda muito pequena. Eles fizeram parte do desenvolvimento do Estado de Israel e acabamos vindo para o Brasil em 1979, depois de algumas passagens em outros lugares. Meu pai chegou a trabalhar por alguns anos no México, onde fiz meu bar-mitzvá, e depois viemos para o Brasil, onde, assim como meus pais, eu também participei ativamente de movimentos juvenis, desde festivais de dança até acampamentos, viagens e idas a Israel, Cheguei a passar um ano em Israel num kibutz e quanto voltei participei como líder de movimentos judaicos.
Quando terminei a faculdade de economia, minha atividade profissional acabou me levando para outros caminhos, mas sempre mantive contato com a comunidade, com os líderes comunitários, inclusive juvenis. E me orgulho dessa participação.
O judaísmo e a carreira
O judaísmo sempre permeou a minha carreira através de princípios de dedicação e incentivo ao estudo. Aprendi que os livros, a escrita e o conhecimento têm um papel relevante em nossa formação. E a carreira de economista requer muito estudo e dedicação. Até os 30 anos me dediquei muito ao estudo, entre mestrado e doutorado. Esse é um investimento que a cultura judaica incentiva. Ensina que o estudo e o conhecimento nos traz benefícios, tanto pessoais como coletivos.
Outro aspecto tem a ver com nossa vida de imigrante, mesmo sendo descendente de várias gerações. Eu mesmo nasci em Israel, fui morar no México, cheguei ao Brasil aos 13 anos e, mais tarde, trabalhei nos Estados Unidos e agora estou voltando para lá a trabalho (como diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI). Como imigrante temos o desejo de trabalhar duro para nos sobressairmos, conquistarmos o nosso espaço. Isso, nós, judeus, temos nas veias. E a carreira de economista tem essa visão maior de que, por exemplo, o que é produzido na China pode ser relevante para o Brasil, EUA e vice-versa. E a globalização é algo que nossa comunidade tem certa afinidade, porque conhece a importância das diferentes culturas no mundo. E isso tem sido relevante também na minha carreira.
Lições de Israel
Israel é um país que conseguiu sair da armadilha da renda média, porque muitos países ficam presos a isso e não conseguem avançar, o que gera muita frustração. Mas Israel conseguiu através de uma ênfase não só em educação, mas também em tecnologia, em investimentos, em empreendedorismo. Israel é hoje uma ‘startup nation’ e vem liderando uma série de invenções e inovações na área tecnológica, algo de muito valor que é muito bem visto no mundo e que gera muito retorno econômico, tanto na bolsa israelense como nas internacionais. As emissões de papeis de empresas israelenses nos EUA e em outros países têm muito valor no mercado.
Portanto, os investimentos de Israel, tanto em empreendedorismo, como em tecnologia, e a ênfase em educação são características muito positivas e que podem servir de exemplo para o mundo.
Antissemitismo
É sempre muito preocupante, porque o antissemitismo está vindo junto com uma tolerância muito baixa ao outro, ao diferente, a outra inserção no mundo. E a comunidade judaica sempre foi vista como minoria, algo diferente, e num mundo em que os diferentes não são bem vistos porque não há um esforço de entendimento, de diálogo. E isso acaba levando ao antissemitismo. Neste fim de semana mesmo ocorreu um sequestro numa sinagoga, em que o sequestrador veio de fora dos EUA, entrou no país com facilidade, comprou uma arma e entrou numa sinagoga localizada perto de um aeroporto, mas certamente escolheu esse local por antissemitismo, com o objetivo de conseguir a libertação de uma terrorista da Al-Qaeda. Isso gerou pânico e para nós, judeus, ficou clara a evidência de que o antissemitismo continua, junto com a falta de tolerância e a facilidade com que se compra uma arma. Penso que estamos vivendo num mundo cada vez mais intolerante e nesse cenário o antissemitismo tende a crescer.
Mensagem aos jovens
Sempre que posso falo com os jovens. Minhas portas estão abertas para eles: me procurem sempre que precisarem. Quando falo sobre minha carreira de economista quero me referir a quaisquer outras carreiras, que começam com muita dedicação e têm como resultado uma satisfação pessoal e também dentro da comunidade. Não tenham ansiedade para resolver tudo nos primeiros anos (da carreira); invistam em suas profissões e tenham a paciência necessária para crescer e entendam que nenhuma escolha é perfeita. Todas as carreiras têm altos e baixos e a minha sugestão é a persistência, sempre. Escolham suas carreiras e invistam e persistam nela, esse é o caminho.
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