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Folha
A ida de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central é uma oportunidade para o governo compreender a importância do ajuste fiscal, avalia o economista Arminio Fraga, que presidiu a instituição entre 1999 e 2003 e conhece os desafios do posto.
“A minha expectativa é que, sendo ele uma pessoa da confiança do presidente e, imagino, do ministro Haddad também, possa conversar com eles lá de dentro, e dizer: ‘Olha, o Banco Central sozinho não resolve, e não é maldade de ninguém. Isso aqui é uma situação difícil mesmo.’”
Segundo Fraga, Galípolo também terá de entender que a cadeira lhe impõe um conjunto de restrições, que norteiam a gestão da autoridade monetária, e com as quais ele terá de aprender a lidar. Leia a seguir trechos da entrevista à Folha.
Dada a atual conjuntura, quais são os desafios para Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central?
Ele vai sentar na cadeira no momento em que o tripé [que inclui meta fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação] está perneta. A perna fiscal está fraca, a despeito dos esforços do ministro Fernando Haddad. Isso dificulta muito a vida do Banco Central. Então, ele vai ter que operar com algumas restrições que são muito naturais, e eu diria muito positivas.
A primeira é a lei que dá autonomia ao Banco Central. A própria lei deixa muito claro o que ele tem que fazer. Ele já sabe. Está lá dentro. A gente sabe que leis nem sempre pegam, né? A Lei de Responsabilidade Fiscal, que era tão boa, foi desrespeitada. O teto de gastos também. Mas ele vai ter que trabalhar com a lei, com a missão que os nossos representantes conferiram a ele. Essa é uma primeira restrição.
A segunda restrição é o próprio mercado. Se o mercado avaliar que o Banco Central está fazendo uma política monetária, vamos dizer, entre aspas, ousada ou exótica, os prêmios de risco vão aumentar muito.
E terceira é, se —eu não estou dizendo que o Banco Central vai errar—, mas se errar, a inflação vai subir e o preço político vai ser muito alto para o governo.
Então a minha expectativa é que, sendo ele uma pessoa da confiança do presidente e, imagino, do ministro Haddad também, possa conversar com eles lá de dentro, e dizer: ‘Olha, o Banco Central sozinho não resolve, e não é maldade de ninguém. Isso aqui é uma situação difícil mesmo.’”
O sr. acredita, então, que vamos chegar a um momento de realismo, que foi dificultado até agora porque [Roberto] Campos Neto era de outro governo, e Galípolo é indicado pelo atual?
Ele pode ser mais sincero, mais firme e deixar claro para eles como vê a situação. Eu sei que ele tem falado muito, mas já faz vários anos que eu não fico na frente da tela vendo as notícias saindo. Então, não sei muito para onde ele vai.
De qualquer maneira, imagino que agora ele esteja tomando um pouco mais de cuidado. Acho que ele pode, para dentro, trabalhar essa questão de que o Banco Central vai até um certo ponto. O desenho institucional demanda uma certa coordenação monetária e fiscal, e tem que ser uma coordenação virtuosa. A combinação virtuosa hoje seria um reforço fiscal grande, que aborde as questões que têm peso.
Quais são?
Previdência, reforma do Estado e vários aspectos das regras do Imposto de Renda, para começar. Com isso, seria possível não só dar uma base boa para o Banco Central trabalhar, mas também começar a repensar as prioridades do gasto, que precisam ser repensadas no Brasil.
O sr. vê, então, uma oportunidade de avanço a partir de um diálogo melhor entre governo e Banco Central?
Então, aquela desconfiança que o governo tem do Campos Neto, que a meu ver vem fazendo um excelente trabalho no Banco Central, tem outras origens. Acredito que, agora, vai ser mais fácil. Não vão desconfiar dele. Não deveriam. Podem não gostar do que ele pode dizer, mas não deveriam desconfiar.
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