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RIO — Com artigos de economistas, cientistas políticos, historiadores e juristas, o livro “130 anos: Em busca da República” (editora Intrínseca), cujo lançamento acontece na próxima terça-feira, propõe uma análise ampla sobre erros e acertos da era republicana no Brasil. Os organizadores — os economistas Pedro Malan e Edmar Bacha , o sociólogo Simon Schwartzman, o historiador José Murilo de Carvalho e os advogados Joaquim Falcão e Marcelo Trindade — reuniram colaborações de 38 autores, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e a cientista política Maria Celina D’Araújo, para discutir os principais fatos de cada década desde a proclamação da República por Deodoro da Fonseca, em 1889.
Mesmo sem a pretensão de construir um raciocínio linear, mas sim de explorar diferentes olhares sobre a história republicana brasileira, Bacha destaca a presença constante da palavra “turbulência” e seus sinônimos ao longo do livro, até a década atual.
— Chamaram 2018 de “ano dos indignados”. Há uma grande desilusão atualmente, uma espécie de desencanto com o que o Brasil é. O livro não toma partido nenhum, apenas propõe uma avaliação mais equilibrada da situação que o país tem vivido. Esta não é a primeira crise que vivemos. Na verdade, a República nasceu sob o signo da crise — afirma Bacha.
Para o economista, que assina um capítulo sobre o esforço de estabilização econômica na década de 1990, a perspectiva histórica pode oferecer referências e lições ao presente. Bacha lembra que os desdobramentos esperados com o Plano Real, do qual foi um dos criadores, esbarraram na rejeição do Congresso a diferentes medidas paralelas apresentadas pelo Planalto.
— Houve um problema de articulação, de falta de liderança do Executivo, que resultou em um pacote menos forte. Há uma certa semelhança com a situação atual, em que vemos certas diferenças entre o que deseja o ministro (da Economia) Paulo Guedes para a reforma da Previdência e os caminhos da articulação política no Congresso — diz.
Segundo Bacha, a preocupação em montar uma equipe multidisciplinar vem desde a origem do projeto, idealizado por Pedro Malan. A iniciativa de chamar egressos do Direito, trazida por Malan, atende ao protagonismo assumido pelo Judiciário no período republicano — que, segundo Bacha, pode ser comparado ao desempenho do poder moderador antes da República. O capítulo assinado pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, por exemplo, analisa os impactos do aumento da atividade judicial na década atual, inclusive em momentos críticos como o julgamento do mensalão.
Com bom humor, Bacha brinca que “até os organizadores precisam entender” as possíveis conclusões que podem ser tiradas das mais de 250 páginas do livro. Mas destaca que, altos e baixos à parte, é possível observar uma “extraordinária diferença para melhor” no atual retrato da República brasileira em relação à versão original, graças a avanços econômicos, políticos e sociais ao longo de 130 anos. Por outro lado, Bacha nota que o sistema republicano brasileiro ainda carece de aperfeiçoamentos.
— Existem duas grandes linhagens republicanas: a dos EUA, mais voltada para direitos individuais, e a da França, com uma visão mais de solidariedade e inclusão. Nesse sentido, temos hoje no Brasil um conjunto mais avançado de direitos individuais e de minorias, mas questões de igualdade de oportunidades e distribuição de renda continuam sendo extremamente problemáticas. Esse processo de crescimento ainda não foi suficiente para termos um grau de bem-estar maior — avalia.
O evento de lançamento de “130 anos: Em busca da República” ocorrerá na próxima terça-feira na Casa Firjan, no Rio, com noite de autógrafos dos autores.
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