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Comemorando os 25 anos da Rio Bravo, gestora da qual é sócio-fundador, Gustavo Franco recebeu convidados em uma noite paulistana no Blue Note, com vista para a Avenida Paulista. A celebração reuniu um público atento a conversas sobre economia, investimentos e história recente do País. A coluna estava lá.
Em um ambiente descontraído, as falas no palco despertaram risos e reflexões. O economista, conhecido pela fala precisa, reforçou seu estilo: sem exageros ou bravatas. Gustavo Franco é, para muitos, um dos nomes que moldaram a cara do Brasil moderno. E talvez por isso seja tão ouvido ainda hoje.
Franco, um dos formuladores do Plano Real e ex-presidente do Banco Central, falou à coluna sobre os desafios do presente e o aprendizado desde a estabilização da moeda.“Para qualquer empresa, nesse País, chegar aos 25 anos é importante. Os últimos anos foram turbulentos. Mas trouxeram muita inovação. O sistema financeiro brasileiro é super dinâmico em razão das dificuldades do tempo da inflação”. Para ele, essa adversidade impulsionou o Brasil. “O sistema financeiro brasileiro está na fronteira muito em razão de uma agilidade que aprendeu a ter naquela época.”
A história da Rio Bravo, que nasceu em 2000 com um grupo de sócios vindos do setor público e privado, é também reflexo desse espírito. A gestora cresceu postando em credibilidade, consistência e leitura de longo prazo. E, mesmo com as transformações do mercado, manteve-se como uma das referências do setor.
Ao longo das últimas décadas, Franco manteve presença ativa no debate público. Ele mentora um podcast que soma 857 episódios da Rio Bravo, analisando conjuntura e história econômica com estilo direto e ponderado. Os capítulos cobrem desde análises técnicas até reflexões culturais e históricas, com olhar didático e acessível. “É uma empresa que faz um podcast semanal desde 2007. Isso explica muito quem somos. Para tomar decisões inteligentes sobre nossa vida material, não basta saber fazer contas ou saber falar de finanças”.
Três décadas após o Plano Real, ele avalia que o País aprendeu muito, mas ainda enfrenta o velho problema das contas públicas. “Mais uma vez temos as contas fiscais desarrumadas.” A diferença, na visão dele, é que dessa vez, as instituições monetárias desempenham um papel fundamental. “Graças ao Banco Central em particular, com um mandato muito claro de manter a inflação dentro da meta, o fiscal não degringolou, trazendo de volta os pesadelos do passado.”
Presidente do BC entre 1997 e 1999, no governo FHC, Franco elogia a continuidade institucional da autoridade monetária. Destaca como relevante o fato de Gabriel Galípolo manter diretrizes de seu antecessor, Roberto Campos Neto. “Tem um valor institucional muito importante no fato de o presidente Lula aceitar as regras, ter convivido com o outro presidente do Banco Central durante dois anos, nomeado pelo presidente anterior, e respeitado o processo de substituição – conforme manda a lei. Obedecer à lei é básico, mas às vezes isso não é tão simples no Brasil.”
Graças ao Banco Central, com um mandato focado em manter a inflação dentro da meta, o fiscal não degringolou, trazendo de volta os pesadelos do passado.
Sobre o arcabouço fiscal, que gerou críticas na Faria Lima, ele reconhece avanços. “É importante que, neste terceiro mandato, o presidente Lula — uma figura tão importante para o petismo e que foi um adversário fundamental do Plano Real — se esforce para manter as contas fiscais sob controle. É disso que trata o arcabouço fiscal. É uma política de governo. Pode não ser a ideal, conforme muitos enxergam. Mas é positivo que o petismo adote o arcabouço fiscal. Muita gente dentro do PT não gosta.” Ainda assim, aponta fragilidades: “A começar pelo modo de calcular o déficit zero. Quando você tira da meta determinados itens de despesa, é claro que a meta não é zero”.
O economista diz que não lhe surpreendem os recuos de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda – como ocorreu na resolução da Receita Federal sobre o PIX e recentemente na mudança sobre o IOF.“O ministro tenta na medida do possível conciliar o desejo da esfera política de aumentar a atuação do Estado e o imperativo de manter a inflação pequenininha”. Mas avalia como equivocada a decisão de mexer no IOF. “Quando o presidente da República não consegue fazer um decreto porque as lideranças políticas se insurgem contra é um mau sinal, é um sinal de um erro. E acho que tem sim um erro de cálculo referente a aumento de imposto.”
Mas o que mais lhe incomoda é a falta de transparência dos gastos públicos. “O orçamento parece outro planeta. Será que nós, aqui do lado de fora do governo, conseguimos acompanhar e entender o que se passa? Eu acho que não. Não era para ser assim tão difícil.”
Sobre a taxação das grandes fortunas defendida pelo governo, Franco compreende a preocupação com a chance de fuga de investimentos e reservas para outros países. “Foi sempre esse o medo. O Brasil já tem uma carga tributária muito elevada”. Para ele, isso estará em debate “para não transformar o Brasil no deserto financeiro que a Argentina se tornou em certo momento”. Em tempos de ruído, Gustavo Franco segue apostando no valor da palavra certa, dita com clareza. “Conversas inteligentes ajudam a tomar melhores decisões”, resume.
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