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O populismo não é fenômeno novo, mas sempre foi difícil de definir.
Em um livro de 2018 sobre o assunto, Barry Eichengreen teve uma ótima sacada: a definição de populismo lembra a célebre fala do juiz (da Suprema Corte americana) Potter Stewart, em um julgamento sobre a censura de um filme de Louis Malle em 1964. A pergunta era sobre a definição de “obscenidade”, e a resposta foi simples e se tornou um clássico: “reconheço quando eu vejo”.
Em suas expressões recentes, nos Estados Unidos e no Brasil, mas sem exclusividade, o populismo envolve mais ou menos os mesmos elementos: líderes carismáticos, espaçosos e midiáticos, contato direto e intensivo com o povo (via redes sociais e sem intermediários), desprezo pelas elites, especialmente os tecnocratas (e também pelas ciências que eles alegam representar), nacionalismo meio caricato e as políticas públicas que se confundem com as campanhas de marketing orientadas pelo aplauso.
Nada disso deveria fazer muita diferença, ressalvados os estilos pessoais. A democracia é o império da popularidade, não? Qual o problema de o presidente governar como quem dirige um programa de auditório, cercado de áulicos sorridentes e plateias amestradas?
A questão é se esse formato, ou algoritmo, é neutro, ou se a escolha de políticas públicas orientada pelo engajamento e pelas curtidas pode enviesar a substância.
Contado de outra forma, mais analógica: antigamente os tecnocratas formulavam planos econômicos, e a liderança política, quando gostava, chamava um profissional de comunicação para orientar a divulgação.
Não era incomum a queixa — do marqueteiro e do chefe— contra as medidas impopulares, como costumam ser os remédios para os problemas econômicos.
Agora a lógica se inverteu: são os marqueteiros que fazem as políticas, que já nascem atendendo aos desejos da liderança. Os técnicos trabalham por encomenda, ou são chamados apenas a posteriori, para ajudar na explicação e consertar qualquer coisa que não desceu bem.
Nesse desenho, não há mais medidas impopulares; não tem como dar errado.
Lembra muito a invenção do congelamento de preços como ferramenta de combate à inflação nos anos 1990: o que pode ser mais direto e intuitivo do que proibir os reajustes de preços?
A inflação se torna ilegal, certo?
Se acontecer, basta chamar a polícia. Ou declarar que o supermercado está fechado.
Não tem como a inflação existir, certo?
Uma parecida, outro dia, foi do vice-presidente: que tal trabalhar com um índice de inflação que só leva em conta os preços que não sobem?
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