O necessário protagonismo sociopolítico das lideranças empresariais


Três convites recentes me levaram a refletir sobre um tema que me é caro: o papel de lideranças empresariais no debate e em ações relativas aos rumos da vida nacional. Não é de hoje que valorizo a questão, como bem evidencia minha trajetória na área pública, no setor privado e também no meu ativismo voluntário. Esses convites, no entanto, me chamaram atenção para o fato de que a pauta acerca do protagonismo sociopolítico que os mais diversos líderes devem ter em nosso cotidiano vem ampliando seu eco, tendo alcançado os corredores da Faria Lima.

Os fóruns em que expus sobre o tema são prova disso. O primeiro deles foi uma palestra para lideranças empresariais do Atitude Pernambuco, que fiz a pedido de Paulo Sales e Halim Nagen. O segundo, foi a convite de José Luiz Alqueres, presidente do Conselho Estratégico da Casa Firjan, para falar no podcast Pensa Rio — o episódio irá ao ar em outubro. O terceiro foi um painel do festival Expert XP, um dos maiores eventos do mercado de investimentos, em que estive ao lado de Pedro Passos, conselheiro da Natura&Co, Maria Silvia Bastos Marques, membro do Conselho de Administração da Klabin, e Carlos Aguiar, ex-CEO da Aracruz Celulose. A mesa foi mediada por Rafael Furlanetti, diretor-institucional da XP.

Reproduzo aqui de forma breve um pouco do que levei para esses espaços e que, acredito, possa contribuir para um debate que vem se avolumando. Em primeiro lugar, é importante dizer que o tema da participação de líderes empresariais nas discussões sobre a nossa sociedade é também um debate sobre os rumos do país. O Brasil pode ter companhias bem-sucedidas, como é o caso das experiências de meus companheiros de painel na XP e do Atitude Pernambuco, mas a sustentabilidade dos negócios não está apartada da trajetória da nação. Não há crescimento sustentável de empresas se o Brasil estiver na contramão da história. Por esse motivo, antes de tudo, precisamos motivar lideranças, entre elas as empresariais, a participarem do debate nacional.

Minha segunda observação é a de que vivemos hoje em um dos países com maior potencial do planeta, particularmente em tempos de caminhada global rumo à descarbonização. A inquietação que se impõe é a de transformar esse potencial em oportunidades para as atuais e futuras gerações de brasileiros. Para isso, não há salvador da pátria. Grandes mudanças em nossa trajetória aconteceram quando forças diversas saíram de sua zona de conforto e arregaçaram as mangas para estudar e discutir os rumos da política.

O Espírito Santo, meu estado natal, viveu na década de 1990 um dos mais delicados momentos de sua caminhada, com o sombreamento dos poderes públicos pelo crime organizado e a catastrófica desorganização e falência da capacidade governamental. A superação daquela nefasta página da história capixaba teve participação decisiva de lideranças empresariais e sociais diversas. Destaque ao Movimento Espírito Santo em Ação, que se criou e se mobilizou para o enfrentamento da tutela criminosa sobre a ação político-institucional e que, posteriormente, já como uma nova fase da história espírito-santense em curso, contribuiu para o planejamento estratégico do estado.

Mais recentemente, vimos importantes nomes lançarem um documento à nação propondo um pacto econômico pela natureza. O texto cita o recente desastre que assolou o Rio Grande do Sul, as queimadas desproporcionais do Pantanal e os diversos eventos climáticos extremos que temos enfrentado, sugerindo uma aliança visando à COP30, que se aproxima em Belém. O manifesto busca, assim, a interlocução do setor privado com os Três Poderes, em Brasília, em defesa de uma coalizão pró-meio ambiente. O pacto nos mostra que participar do debate público não é insultar adversários, fulanizar ou “caçar bruxas”, como bem salienta o texto, mas discutir no campo das ideias.

Outra forma de participar da construção de nosso futuro é a partir das instituições criadas na sociedade civil com objetivos nobres. Eu, particularmente, participo de forma voluntária do conselho do RenovaBR, fundado por Eduardo Mufarej com o objetivo de formar novas lideranças para promover a melhoria do quadro político. O Renova já formou mais de 3.500 pessoas espalhadas pelo país. São senadores, deputados federias, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, secretários e gerentes. Faço parte, ainda, do conselho do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), fundado por Armínio Fraga com a finalidade de ajudar a formular políticas públicas.

É inegável o fato de termos hoje um avanço no conjunto de associações e lideranças que trabalham para além de seus interesses corporativos. Isso mostra que, ainda que lentamente, cresce a consciência de que nenhuma prosperidade será duradoura sem um país organizado e um ambiente de negócios adequado. Minha aspiração é que esse processo evolua de forma mais célere, e com a clareza de que é necessária uma visão ampliada de país, constituída por múltiplas lideranças e vozes. Em alguns aspectos, quando tratamos do combate à emergência climática, por exemplo, é necessário um olhar ainda mais abrangente, planetário, pois a solução passa por mais de 200 nações.

Reconheço os avanços de nossa trajetória com os dois pés fincados no chão, ciente também dos desafios que temos pela frente. Não podemos retroceder e precisamos continuar a caminhada de avanço, seja na agenda reformista, seja nos investimentos em educação básica, seja no combate ao crime organizado. As demandas são patentes e urgentes. O que precisamos incrementar é justamente a mobilização de lideranças dos mais diversos campos de nossa vida sociopolítica e econômica para pensarmos e construirmos o país que podemos e merecemos ser. E, pelo que estamos percebendo, felizmente esse é um movimento que se amplia dia a dia.