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O espírito deste tempo de travessia de ano inspira olhares em retrospectiva, mas, de igual forma, suscita visão em perspectiva. Assim, a 31 dias da virada, sigamos na caminhada de quem examina os passos dados para entender onde se está, e vislumbra o horizonte, com vistas a se realizar a potencialidade de um país que merece ser muito mais do que tem sido.
Do mesmo modo em que há duas direções a olhar, há desafios e oportunidades a observar, num cenário de complexidades sociopolíticas e contingências climáticas, mas também de ímpar possibilidade de agirmos, como país e como planeta, de forma articulada, para provocar transformações substanciais e necessárias. Quanto ao Brasil, as chances estão postas, apesar de inúmeros deveres de casa impositivos.
Colhemos hoje no país os frutos de mudanças estruturais feitas ao longo dos últimos anos, muitas delas iniciadas ainda na década de 1990, e que se consolidaram ao passar de governos. Refiro-me a marcos na economia, no mercado de trabalho e na estrutura regulatória. Estabilizamos a moeda, universalizamos o ensino básico e ampliamos o acesso ao ensino superior. Conduzimos uma importante agenda de reformas, como a trabalhista e a previdenciária. Aprovamos o Marco do Saneamento, garantimos a independência do Banco Central e tivemos o experimento de um teto de gastos que entregou resultados importantes.
Em um contexto global de grande instabilidade, o Brasil encerra 2024 com indicadores econômicos positivos em várias frentes. O mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, acumulamos uma reserva internacional de US$ 372 bilhões e apresentamos uma balança comercial positiva, beneficiada pelo agronegócio e pela exportação de produtos com alta demanda internacional.
Quando abrimos a janela, nos deparamos com um mundo desafiador, mas que também acena com oportunidades. Coexistimos com duas guerras e uma disputa pela hegemonia travada entre Estados Unidos e China, que traz incertezas aos países. Acima de tudo, são rotineiros os efeitos da crise climática sobre cidades e populações. É latente nossa dificuldade, enquanto sociedade, de agir de forma coordenada para enfrentar o maior dos problemas da atualidade — os resultados insuficientes da COP16 da Biodiversidade, que aconteceu em Cali, e da COP29 do Clima, em Baku, mostram isso.
Nesse cenário, o Brasil surge com diferencial estratégico: já dispomos de uma matriz energética limpa, que países ricos almejam agora desenvolver. Tornamo-nos exportadores fundamentais de alimento para o globo. Abrigamos a maior floresta tropical do mundo, 12% das reservas de água doce e 20% da biodiversidade.
A economia verde ganha relevância e temos tudo para ampliar nosso espaço nesta nova era. Nosso potencial para a bioeconomia —reforçado na recém-finalizada reunião do G20 no Brasil— com a fabricação e exportação de produtos com baixa pegada de carbono, começa a ganhar tração. Contudo, a agenda reformista precisa se robustecer para que possamos transformar esse potencial em resultados práticos.
Para construir um futuro sólido, há pilares que exigem atenção e avanço imediato – 2024 ficou aquém de nossa necessidade de ação nessas frentes. É necessária uma reforma do RH do setor público, com o objetivo de melhoria da qualidade de contraprestação dos serviços, investir na educação básica, assim como na formação de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho. Também precisamos superar as disfuncionalidades do sistema político brasileiro.
A questão fiscal se mantém como enorme obstáculo ao nosso desenvolvimento. As medidas recentemente anunciadas são insuficientes para alterar a dinâmica da dívida pública e, consequentemente, ancorar as expectativas. Outro ponto que merece atenção é a inflação, que já temos vivenciado, por exemplo, no setor de alimentos. Faz-se ainda necessário profissionalizar as agências reguladoras, de forma a melhorar o ambiente de negócios. Por fim, é fundamental avançar no combate ao crime organizado, assim como ao garimpo ilegal, ao desmatamento e à grilagem, graves desafios que exigem resposta contundente.
Enfim, é necessário reconhecer nossos avanços, mas também é preciso ter em mente que há um longo caminhar para o Brasil efetivamente se posicionar como um player global respeitado. O êxito dependerá da nossa capacidade de consolidar e fazer evoluir o que foi conquistado e de investir estrategicamente, tendo em vista as oportunidades e desafios que se apresentam.
Que o exame do que passou e a mirada no que podemos ser, exercício indissociável deste momento da vida, nos inspirem a construir um 2025 no caminho da conquista de um Brasil que faça jus a seu povo e às suas potencialidades.
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