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A celebração dos 200 anos da Independência permite uma reflexão preciosa sobre o longo prazo, assunto que não parece despertar muito interesse em meio aos debates eleitorais.
Há muito o que pensar sobre o que se passou nesses últimos dois séculos, muita informação para processar, ainda que muitas das estatísticas para esses anos sejam de baixa qualidade, e o problema é especialmente sério para os tempos mais remotos.
Mas o que dizem os dados? Como evoluiu, para começar, a renda média real do brasileiro depois de 1822 e os preços?
Existem enormes dúvidas metodológicas sobre essas estatísticas, que combinam diversas fontes e metodologias.
Há muito o que discutir sobre as dificuldades metodológicas, sobretudo o encadeamento de diversas estimativas, mas não vamos entrar nisso. Não creio, ademais, que essas questões alterem a direção das principais conclusões.
Salta aos olhos o desempenho ruim dos primeiros 100 anos, assunto sempre delicado, mas difícil de ser contestado seja em termos absolutos ou comparativamente a outros países ditos de assentamento recente.
A República Velha exibe um desempenho melhor, mas os anos verdadeiramente dourados para o crescimento parecem ser os do período 1949-80.
Nunca mais conseguimos desempenho comparável, mesmo repetindo compulsivamente a receita.
O período seguinte, entre 1980 e 1994, é o de hiperinflação, e não há coincidência em que essa desgraça ocorra exatamente quando parece se esgotar o modelo de crescimento até ali praticado com sucesso.
Faz sentido associar o nosso crescimento com a inflação no longo prazo?
Vejamos.
Durante o nosso primeiro século como nação independente a inflação esteve em 3,8% ao ano, o que era muito para esse tempo. O nível de preços vai de 100 (0,3) a 4354 (14) em 100 anos.
Em 1939, quando começa a ser publicado o índice de custo de vida para São Paulo pela FIPE-USP, a inflação já tinha acelerado para outro patamar. De 1949 a 1980 o nível de preços vai de 100 a 5189 (são 13,6% ao ano em média para esses 31 anos). Daí até junho de 1994 o nível de preços alcança esse número na tabela que praticamente quebra o termômetro.
Ao que parece, essa aceleração da inflação teve que ver com a insistência numa fórmula esgotada: crescimento como produto da inflação.
A inflação turbina o gasto público, como se sabe, mas também multiplica a desigualdade, pois funciona como um imposto que incide primordialmente sobre o pobre. Ou seja, a inflação ajuda mas perverte o crescimento, pois resulta em ampliação de desigualdade.
O futuro dirá se podemos conseguir uma coisa sem a outra, e os números recentes não dão muito alento, infelizmente.
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