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O Plano Real foi colocado pela primeira vez no papel no dia 13 de agosto de 1993. Mais exatamente em um papelzinho azul, como relata seu autor, o economista Edmar Bacha, em seu livro de memórias lançado em 2021.
O plano teve um final feliz. O mesmo não se pode dizer do registro histórico.
Naquele dia, o presidente Itamar Franco (1930-2011) havia anunciado a demissão de Paulo Cesar Ximenes da presidência do Banco Central. Não avisou o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que havia indicado o economista para dirigir a instituição.
No mesmo dia, FHC convocou alguns membros da equipe que faria o Plano Real para uma reunião. Depois, iria conversar com Itamar sobre a questão do BC.
“Acreditei que era o fim de nossa permanência no governo”, escreve Bacha. “Cheguei antes dos demais, e enquanto estava na sala de espera peguei um papelzinho azul e alinhei um conjunto de pontos sobre como seria o plano de estabilização que implementaríamos caso não estivéssemos de saída do governo.”
Segundo ele, a ideia era mostrar para FHC que havia uma estratégia. “Dela, nunca lhe falara, pois não queria dar-lhe a ilusão de que seria possível fazer algo ousado num governo que até então se revelara tão precário.”
As anotações traziam as três etapas que fizeram parte do Plano Real. Primeiro, um ajuste fiscal para que o governo conseguisse equilibrar as contas sem a ajuda da inflação.
A segunda, a conversão de preços em uma unidade de conta reajustada diariamente. No papel, rabiscou a sigla Ufir (Unidade Fiscal de Referência), para aquilo que viria a ser a URV (Unidade Real de Valor), inspirada em um artigo do economista Persio Arida, que também era parte da equipe.
A terceira e última etapa seria a conversão dessa unidade em uma moeda de verdade, ancorada no dólar.
Segundo Bacha, FHC ficou aliviado ao ver que as conversas teóricas daqueles economistas poderiam gerar algo concreto, que seria implementado se ele continuasse como ministro. Após essa reunião, os dois foram ao encontro com Itamar.
O plano sobreviveu. O papelzinho, não. “No dia seguinte, chegando à minha sala no Ministério da Fazenda, triturei as anotações, com medo de que caíssem nas mãos da imprensa que estava todo dia à cata de como seria o plano.”
Segundo Bacha, do bilhete só restam o que está em sua memória e em uma página no diário de Clóvis Carvalho, o membro da equipe que fazia registros das reuniões. “O esquema pode ser deduzido do que está lá escrito, em seguida ao apontamento: ‘EB [Edmar Bacha] – (lendo seu papelzinho azul)’.”
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