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Saída para a economia vai ter de vir da política
A fotografia da pandemia ainda é difícil, com algum relaxamento só a partir de uma vacina, e, no geral, a “saída” para o Brasil e a economia da crise e seus desdobramentos deve partir da política, avalia Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central. “Não estou olhando para o futuro com atitude otimista, acho que teremos um trabalho árduo pela frente”, disse na Live do Valor desta quarta-feira.
Com uma expansão fiscal considerada “colossal”, Fraga diz que não é de se estranhar que haja de fato alguma manutenção da atividade econômica mesmo na pandemia. “Mas o consenso ainda é de uma queda do PIB em torno de 6%, uma enorme recessão apesar da expansão fiscal, que foi a maior da nossa história e que vai deixar sequelas”, afirma. Se há algum dinheiro na mão das pessoas e elas de fato estão gastando, um estímulo importante que ainda precisará ser observado é o do investimento, que “está muito amarrado”, segundo Fraga. “Minha experiência com crise é que nunca sabemos quando é o fundo do poço, é cedo para saber o veredito final”, diz Fraga, destacando que sua preocupação vai além da economia. Ele cita, por exemplo, questões ambientais envolvendo a Amazônia e diz que a ideia de “armar a população incomoda”.
Segundo ele, a “alavanca maior do crescimento vai ter que nascer a partir da política”, de diagnósticos da situação atual do país. “Precisamos de democracia mais calma”. Ele afirma que há uma crise civilizatória e política, “com os Poderes se digladiando, então não é um bom momento”. Para Fraga, mecanismos de distribuição de renda devem ser mais diretos “porque o canal já existe e pode ser aproveitado, ajuda a focalizar”. “Há também uma preferência no que diz respeito às crianças, que a meu ver merecem ser protegidas, mas eu não faria só para crianças.” Isso deve ser feito sem perder de vista os desafios das contas públicas. “O país está muito fragilizado do ponto de vista fiscal, é preciso mais cuidado.
Fraga diz que a reforma do Estado precisa acontecer “ontem”, até para o Estado poder investir mais. “Tenho insistido em resolver questões grandes”, ele afirma, citando o tamanho do Estado, gastos com Previdência e funcionalismo público e outros temas relacionados ao ambiente de negócios. “Quando começa a atacar essas questões, economia destrava, mas isso não está acontecendo.”
Segundo ele, é preciso equilibrar controle macroeconômico, solidariedade, produtividade. “Essas receitas, a meu ver, são compatíveis”, afirma. Mas ele diz que há uma polarização política “muito complicada” no mundo. “As coisas funcionam melhor quando estão mais próximas do centro”, diz. “Acho que categorias de esquerda e direita não são tão óbvias”, afirma, acrescentando que governos de esquerda “fizeram muita barbaridade na desigualdade”.
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