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Na trincheira dos enfrentamentos socioeconômicos e políticos, a arte de formular perguntas assertivas é tão relevante quanto a capacidade de construir respostas consequentes.
A habilidade estratégica de perceber a realidade com nitidez para elaborar mapas para a ultrapassagem de entraves sempre foi demanda histórica que atravessa civilizações. Mas, de toda sorte, este princípio de século tem apresentado cenários algo nebulosos, voláteis, de engenhosa decifração e desafiante navegação.
Num tempo de mergulho radical na digitalidade e de rearranjo de placas tectônicas da geopolítica planetária, uma questão fundamental se põe: que mundo é este que se conforma à nossa frente, que parece tão contraditório ao colocar no mesmo giro avanços e retrocessos? E, neste mundo em vertigem, que país somos e que país podemos ser?
A onda da globalização acelerada, fator de desinflação e de crescimentos planeta afora, é coisa do passado. Não acredito em desglobalização, mas estamos vivendo ajustes de interfaces entre os players mundiais, impactando todas as nações. É o caso do conflito entre os EUA e a China, na corrida em que se disputa a hegemonia mundial.
A pandemia de covid-19, além de produzir uma catástrofe sanitária, aprofundou os desgastes nas engrenagens globalizantes, desorganizando as cadeias de suprimentos que dinamizavam a economia mundial. O mundo passou a ter de lidar com uma guerra na Europa, a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia. Para além da tragédia humanitária, esse conflito impõe questões importantes, entre elas o fornecimento de energia na Europa e de alimentos para os planetários. O mundo está capturado pela desconfiança, descrente em arranjos diplomáticos e castigado por conflitos, como o mais recente no Oriente Médio.
Aliás, com crescimento populacional em alta, os desafios de alimentar o mundo só se complexificam – ainda em face da convulsão climática. Ao redor do planeta, estamos sendo submetidos aos reveses ambientais, numa colheita dramática de erros plantados anos a fio para bancar o atual modelo de desenvolvimento. Fazer a transição para a economia verde não é uma opção. Trata-se de uma obrigação, tendo em vista a viabilidade da Terra para as atuais e futuras gerações.
Nesta cena, precisamos de líderes que ajustem o foco para ter clareza do ambiente, identificar os problemas nevrálgicos e mapear a rota das oportunidades. Neste caminho, se conseguir parar de olhar o retrovisor ao pensar o futuro e incrementar o processo de mudanças estruturais que, aos trancos e barrancos, conseguiu operar nas últimas décadas, poderá o Brasil se inserir com destaque no movimento de redesenho da sociabilidade atual com potencial e expertise para se colocar com protagonismo na economia verde. Temos a maior floresta tropical do mundo, concentramos a maior biodiversidade do planeta e 12% de todas as reservas de água doce, além de possuirmos metais fundamentais para o paradigma das energias limpas e renováveis, como lítio, cobre e níquel.
Nossa energia já é 47% renovável, índice invejável à maioria dos países, que ainda lutam para achar substitutos às fontes fósseis. O Brasil tem experiência notável com biomassa, sol, vento e um parque hidrelétrico consolidado. A oferta de energia renovável e bioenergia pode significar ao Brasil um mercado potencial de mais de US$ 125 bilhões, calcado na corrida pela transição energética global.
Podemos também avançar como nenhum país na oferta de alimentos em escala planetária. Hoje, já suprimos 10% da população mundial e temos condições de ir além, como provedor de comida e fibras. Isso sem necessidade de derrubar florestas, uma vez que há mais de 80 milhões de hectares de terras com algum nível de degradação e passíveis de serem convertidas para produção agrícola em nosso território.
Com a pandemia, a digitalidade expandiu-se e não cessa de ampliar suas fronteiras rumo às práticas do dia a dia. Por óbvio, há imensos desafios, mas, de igual modo, colocam-se oportunidades jamais vistas de promoção de prosperidade, com inclusão e qualidade de vida, alcançando áreas como educação, saúde, atividades laborais, lógicas produtivas, etc. No caso dos serviços financeiros, o PIX é um grande exemplo de como a digitalização pode impulsionar as atividades econômicas mais diversas.
Estes tempos vertiginosos, eivados por marcas tão discrepantes quanto inusitadas, tão desafiantes quanto inspiradoras, demandam o exercício de uma virtude peculiar. Trata-se da lucidez estratégica, um meio para sabermos onde estamos e vislumbrarmos aonde queremos e podemos ir, com acuidade e compromisso com a superação.
Não bastam lampejos de racionalidade. É preciso que se construam faróis para orientar a travessia. Como já descreveu Aristóteles, a virtude é uma distinção ética orientada pela vontade de equilíbrio no agir, prescrevendo o caminho do meio entre a escassez e o exagero. Assim, neste mundo em reordenação alucinante, nem visada estreita nem olhar deslumbrado. Mas visão sóbria, iluminada pelos aprendizados da história e norteada por um arrebatador senso de realidade e oportunidade.
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