Casa das Garças

Persio Arida: o teórico

Data: 

11/07/2024

Autor: 

Carlos Alberto Sardenberg

Veículo: 

Plano Real – Histórias não contadas

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“Olha, é uma ideia que pode parecer estranha. As pessoas todas acham muito maluca. Mas você pense um pouco e vai que é um negócio interessante.”

 

Assim o economista Persio Arida introduziu sua conversa com o jornalista Celso Pinto, fundador deste jornal, para explicar sua proposta de reforma monetária – a teoria que viria a ser a base do fracassado Plano Cruzado e do bem sucedido Plano Real.

 

Como uma mesma ideia pode resultar nessa contradição, um fracasso e um sucesso?

 

A conversa entre Celso e Persio ocorreu em julho de 1984. O jornalista interessou-se pela “aparente loucura” e foi o primeiro a colocar a ideia para o público.

 

O artigo – “O debate da desindexação” – saiu na primeira página da “Gazeta Mercantil” em 13 de agosto de 1984. Não falava apenas da proposta de reforma monetária. Tratava da polêmica que se desenvolvia entre economistas da oposição e do governo.

 

Naquela altura, a ditadura estava com os dias contados, abatida, inclusive, pela crise econômica que deixaria como pesada herança – uma perversa combinação de recessão e inflação.

 

Eu conheci Persio em 1984, na Secretaria da Fazenda de São Paulo, do governo de Franco Montoro. Ali o secretário João Sayad organizava reuniões com os jovens economistas, todos com menos de 30 anos, que se preparavam para a política econômica da democracia. Como coordenador de comunicação, funcionei como secretário de algumas dessas reuniões. Foi um espetacular curso de economia.

 

Persio sabia que sua teoria exigia muita explicação. E a boa explicação servia também para desfazer a sensação de incredulidade causada pela sua aparência.

 

Pouco mais de 30 anos, cara de menos, Persio aparecia carregando uma mochila nas costas, walkman e fones de ouvido. Sacava seus papéis e expunha a história da indexação plena e da nova moeda de maneira metódica, clara, cuidadosa. Um brilho.

 

A proposta de reforma monetária foi formulada em conjunto com seu amigo André Lara Resende. Eram colegas na PUC do Rio de Janeiro. A teoria foi apelidada de Larida, junção óbvia do sobrenome dos dois.

 

As reuniões na Secretaria da Fazenda deram frutos. No governo Sarney, o primeiro depois do fim da ditadura, Sayad foi convocado para ser ministro do Planejamento. Chamou Persio Arida para implementar seu plano de estabilização. E me chamou para registrar e comunicar à imprensa essa empreitada.

 

A inflação batia recordes nacionais em janeiro e fevereiro de 1986. A população se arranjava como podia. De repente, em março, a moeda não se chamava mais cruzeiro, mas cruzado. Os preços não só pararam de subir como começaram a cair.

 

O problema é que não existe inflação, existem várias, de origem e histórias diferentes. O Plano Cruzado abateu uma delas. Digamos que o sintoma foi curado, mas não a causa. E menos de um ano depois os preços voltaram a subir.

 

A falta de bons negociadores fez com que a proposta Larida fosse desfigurada no meio político. Quando o Plano Cruzado começou a ser aplicado, os teóricos perderam força. A história que começou como um sonho – e que por um tempo deu fôlego político a Sarney – terminou em pesadelo.

 

A equipe econômica de Sayad deixou o governo com uma inflação tão devastadora quanto a que havia liquidado. E uma sensação irremediável de dívida com o país.

 

Persio não se abateu. Continuou se dedicando aos estudos, analisando outras moedas e casos de hiperinflação no mundo. Persio exprime o que é ser um economista político. Conhece a história e a sociedade brasileira em profundidade. Sabe que economia não se faz só com matemática, mas com uma visão humanista.

 

Então veio a segunda chance. Em 1993, Persio Arida foi nomeado presidente do BNDES. Na equipe do Real, ajudou a reparar o que não havia dado certo no Cruzado e a implementar o plano de reforma monetária que carregava na sua mochila desde os anos 80.

 

No podcast, o Persio explica que projeto era esse e como ele saiu do papel. Fala também do seu trabalho na presidência do Banco Central durante a consolidação do Plano Real. E da sensação de alívio que permanece, 30 anos depois, por ter reescrito o final dramático da história do Plano Cruzado.

 

Persio conta isso no quarto episódio do podcast Plano Real – Histórias Não Contadas.

 

 

Link do podcast:

 

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