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pedro.paulo

Claudia Costin é fundadora e diretora do FGV CEIPE – o Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro. Foi Diretora Global de Educação do Banco Mundial, membro da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT), professora da PUC-SP, do Insper, da Enap (Canadá) e, mais recentemente, da Faculdade de Educação da Univerisdade de Harvard.  Foi ministra da Administração e Reforma do Estado, secretária de Cultura do Estado de São Paulo e secretária de Educação do município do Rio de Janeiro. É articulista da Folha de São Paulo e cofundaodra do movimento da sociedade civil, Todos Pela Educação. Integra, desde o final de 2020, o UIL – Instituto para Aprendizagem ao Longo da Vida – Institute for Lifelong Learning – da Unesco e o Conselho Administrativo da Qatar Foundation.


Resumo:

Cláudia Costin, Ex-Ministra de Administração, professora universitária e gestora pública, traz ao podcast A Arte da Política Econômica o exame de experiências e do estado atual da educação no Brasil. De 2009 a 2014, Cláudia foi secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro e, a partir desta vivência, demonstra a importância da adoção de um currículo na educação básica e de atenção às escolas em áreas de vulnerabilidade. Em sua avaliação do estado da educação no Brasil, expõe as razões e os desafios para a implementação da Reforma do Ensino Médio e as lições a serem extraídas dos modelos bem-sucedidos de educação em estados da federação. Tendo atuado também como Diretora Global de Educação do Banco Mundial (2014-2016), assinala a relevância da formação continuada dos professores e a importância das evidências dos casos internacionais de sucesso para orientar as políticas educacionais. 

O ensino no Brasil: o peso das opções do passado

O estado atual da educação no Brasil é reflexo de escolhas do passado. A ideia difundida e implementada na década de 1940 era de se investir no ensino superior, a fim de se construir uma elite iluminada, que viesse a transformar o processo de desenvolvimento do país. Na prática, a iniciativa gerou o resultado oposto, onde a elite formada buscou mecanismos de exclusão e de proteção que a mantinha isolada do restante da população. Um exemplo foi a criação do exame de admissão, que tornou ainda mais excludente o acesso ao ensino básico. Enquanto países como Argentina e Coreia do Sul já universalizavam sua educação, o Brasil, no final da década de 1960, tinha apenas 40% das crianças em idade escolar no ensino primário. 

A experiência na Secretaria de Educação

Ao chegar à secretaria de educação da cidade do Rio, Claudia identifica duas carências no sistema de ensino. A primeira, a falta de currículo. Apesar das alegações opostas de que a ideia tiraria a autonomia do professor na sala de aula, a ausência de um currículo padrão provocava desigualdades, já que nem todos podiam receber o mesmo ensino. A segunda, a dificuldade de aprendizado nas áreas de risco, refletida no baixo IDEB. Criou-se, então, um currículo com avaliações periódicas de desempenho e cadernos pedagógicos. Para as áreas de pior desempenho, decorrentes da vulnerabilidade ou violência, elaborou-se um programa de ação afirmativa, com a inauguração das Escolas do Amanhã. Ou seja, deu-se prioridade de orçamento, acompanhamento e doações para essas escolas. Também foram criados incentivos para professores e alunos, como premiações por desempenho, além da promoção de um sistema de apadrinhamento entre as escolas, com apoio de escolas em melhor situação às menos favorecidas e investimento complementar com outras áreas do setor público, como saúde, na educação infantil. 

A urgência e desafios da reforma do ensino médio

Com 13 matérias, a grade curricular do ensino médio mostra-se insustentável, já que tem como resultado a entrega de um ensino superficial, produto de uma visão demasiadamente corporativista. É preciso garantir o ensino não só das competências básicas, mas também de um pensamento científico e sistemático, com criatividade para a resolução de problemas. A reforma com implementação prevista para 2022 contempla as melhores práticas de países com bom desempenho educacional. Promove rotas alternativas de aprendizagem aos alunos, com base em seus interesses, sem deixar de manter uma base comum para todos. O desafio estará na adaptação dos professores aos novos requisitos de formação e prática de ensino, não mais apenas disciplinar, mas por áreas de conhecimento. 

Evolução gradativa e os exemplos de continuidade de Ceará e Pernambuco

A educação no Brasil, ainda que de forma vagarosa, tem experimentado um importante processo de transformação, com destaque para o resultado positivo do IDEB de 2019, fruto de ações anteriores que se consolidaram ao longo do tempo. Fez parte desse quadro o retorno de um ano a mais na grade curricular básica em 2005, que havia sido subtraído em 1975. A criação do IDEB gerou uma gradual melhoria no acompanhamento de dados por professores e pesquisadores. Casos de sucesso passaram a mostrar caminhos, a exemplo do município cearense de Sobral, que alfabetiza crianças até os 7 anos de idade.  Pernambuco, que ocupava o penúltimo lugar no ranking entre os estados em 2007, dá um salto a partir de uma experiência de escola em tempo integral que é multiplicada e ampliada para todo o estado. Hoje, 82% da rede estadual de Pernambuco está em tempo integral, seguindo os moldes da experiência piloto. Pernambuco ocupou o 3° lugar geral no ranking dos estados em 2017. 

Experiência internacional: a formação de professores e o ensino diante das incertezas

O negacionismo científico revela-se não apenas na saúde, mas também na educação. Há situações que precisam ser contextualizadas, porém há variados exemplos independentes do lugar, aplicáveis na educação. É importante o aprendizado com base em evidências. No Brasil, ao contrário de regiões como Xangai, Finlândia e Coreia do Sul, observa-se uma formação de professores distante da prática. Em um contexto específico, elucidado a partir da visita a centros educacionais de países em situação econômica inferior à do Brasil, percebeu-se a necessidade de se implementar uma agenda de recuperação de aprendizagens perdidas, aliada à adoção de um ensino com competências úteis para o sucesso em períodos de incertezas, como aquele gerado pela COVID-19. 

Mensagens finais: capital humano, autonomia e competências socioemocionais 

Em primeiro lugar, é preciso que haja urgência na sociedade e nas políticas públicas para o tema da educação. Para a construção de um processo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, é imprescindível o fortalecimento do capital humano. Em segundo lugar, é preciso dar prioridade à autonomia do aluno, para que não dependa de modelos pré-formatados para pensar e o faça de forma independente e científica. Com a inclusão digital, por exemplo, será possível dar saltos maiores na aprendizagem, com uso, na sala de aula, de conceitos aplicados à realidade e que demandem criatividade. Por fim, destaca-se o desenvolvimento de competências emocionais, fundamentais para as novas relações de trabalho, ressaltando-se que o conhecimento numa área não pode ser apenas teórico mas também prático. 


Leituras sugeridas:

BARROS, Daniel. País Mal Educado: por que se aprende tão pouco nas escolas brasileiras? 3a ed. Record, 2018. 

WESTOVER, Tara. A Menina da Montanha. Rocco, 2018

FULLAN, Michael. Coherence: The Right Drivers in Action for Schools, Districts, and Systems. Corwin Publishers, 2015. 

MEHTA, Jal; FINE, Sarah. In Search of Deeper Learning: The Quest to Remake the American High School. Havard University Press, 2019. 

WOLF, Maryanne. O cérebro no mundo digital: Os desafios da leitura na nossa era. Editora Contexto, 2019. 

Policy briefs (CEIPE), disponíveis em: https://ceipe.fgv.br/

OCDE: Educação no Brasil: uma perspectiva internacional. Disponível em: https://iepecdg.com.br/podcast/wp-content/uploads/2021/09/OCDE-A-Educacao-no-Brasil_uma-perspectiva-internacional-1-2021.pdf

GOIS, Antônio. Líderes na Escola. São Paulo: Moderna, 2020. Disponível em: https://iepecdg.com.br/podcast/wp-content/uploads/2021/09/lideres_na_escola_COMPLETO_final.pdf

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