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Edmar Lisboa Bacha é sócio fundador e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, um think-tank no Rio de Janeiro.  É membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências. 

Formou-se em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. É um dos primeiros economistas brasileiros com doutorado no exterior, pela Universidade de Yale, em 1968.

Em 1974, publicou uma fábula sobre o reino de Belíndia, junção de Bélgica com Índia, que se tornou desde então uma imagem recorrente do Brasil. 

Integrou a equipe econômica que dominou a hiperinflação com o Plano Real, em 1994. 

Foi presidente do BNDES e do IBGE e professor em diversas universidades brasileiras e americanas. 

Em 2012, publicou “Belíndia 2.0: Fábulas e Ensaios sobre o País dos Contrastes” (Civilização Brasileira, 2012). O último livro que organizou, em colaboração com outros autores, é “130 Anos: Em Busca da República” (Intrínseca, 2019). Ambos foram agraciados com o Prêmio Jabuti de melhor livro do ano, respectivamente nas áreas de economia, em 2013, e de ciências sociais, em 2020. 

Seu livro de memórias, de 2021, intitula-se “No País dos Contrastes: Memórias da Infância ao Plano Real”, publicado na Série História Real da Editora Intrínseca.


Resumo:

O Instituto de Estudos de Política Econômica, Casa das Garças, recebe o seu sócio fundador e diretor Edmar Lisboa Bacha. Bacha participou da equipe econômica que dominou a hiperinflação no Brasil através da implementação do Plano Real (1994). Inaugurando a série de 3 episódios sobre o plano, o economista e membro da Academia de Letras destaca o papel do Departamento de Economia da PUC RIO nas discussões sobre as causas da inflação e as políticas para o seu controle, o aprendizado com as experiências de estabilização no Brasil e no mundo, os caminhos para o Plano Real, os desafios da implementação do Real e o papel crítico da liderança, da equipe e da negociação para o sucesso do plano. 

A inflação elevada domina e inspira o fértil momento do Departamento de Economia da PUC RIO. É uma fase de germinação e desenho de propostas (1979-93) …

Já nos finais da ditadura, ainda sob o desafio de redemocratização, o Brasil vivia as recorrentes crises do balanço de pagamentos e as suas consequências inflacionárias. É o momento de criação do programa de mestrado do departamento de economia da PUC, incorporação de novos professores e um foco de pesquisas centrado na inflação e nos problemas da dívida externa e do balanço de pagamentos. As propostas afastam-se da preferência entre gradualismo X tratamento de choque e passam a explorar as fontes inerciais da inflação e as opções heterodoxas ao seu combate.

 A experiência do Plano Cruzado como lição para a construção do Plano Real…

O Plano Cruzado e demais experiências de fracasso de estabilização foram uma fonte importante de aprendizagem. Há um aprendizado sobre como os incentivos políticos moldam as opções de política econômica, a exemplo da introdução de abonos e congelamentos prolongados que impactaram negativamente o Cruzado. É dada maior atenção aos efeitos jurídicos das medidas e à capacidade de os agentes anteciparem e se defenderem de intervenções. Um importante produto desse período é a contribuição de Pérsio Arida e André Lara Resende, a proposta Larida, uma nova forma de combate à inflação que se distanciava dos congelamentos e era pautada pelo maior papel dos incentivos voluntários.

Equipe, coesão de ideias e liderança política…

Com a admissão de Pedro Malan na presidência do Banco Central (1993), Pérsio Arida no BNDES, André L. Resende como novo negociador da dívida externa e Fernando H. Cardoso como ministro da Fazenda, as condições, finalmente, viriam a se tornar favoráveis para a elaboração de um plano que fizesse um ataque frontal à inflação. A equipe é ampliada e nasce o Plano Real. O caminho, produto de muitas discussões acadêmicas e de novas respostas aos desafios na fase de implementação, baseava-se na criação da URV, a Unidade Real de Valor, o que equivalia à ufirização² de preços e salários. O plano segue um conjunto de etapas que se inicia pela consolidação fiscal e termina com o lançamento da nova moeda, o Real. 

Um plano intensivo em negociações com o Congresso…

A implementação do plano exigiu um trabalho intenso de negociação e convencimento. A aprovação das medidas de transição para a nova moeda e a criação do fundo social de emergência demandaram diálogos e presenças constantes no Congresso Nacional. O grande trunfo negociador esteve na oferta de um produto de alta demanda da população – a inflação baixa- e, na expectativa dos efeitos desse novo ambiente sobre o crescimento do salário real e a popularidade dos políticos que o apoiavam. 

Um resumo e uma lição…

O desafio de formular políticas e projetos bem sucedidos depende de múltiplos elementos: diagnóstico, aprendizagem com os erros e fracassos, equipe coesa e de qualidade, liderança política e capacidade de negociação. O principal legado do Real é o controle da hiperinflação; permanecem na agenda o aumento da capacidade de crescimento, a elevação da produtividade e a redução das desigualdades 

² o termo vem da sigla UFIR (Unidade Fiscal de Referência), indexador fiscal utilizado para correção de dívidas do governo. 


Leituras sugeridas:

Edmar Bacha, “O Plano Real: uma avaliação”. Em: E. Bacha, Belíndia 2.0: Fábulas e Ensaios sobre o País dos Contrastes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, págs.135-175.

Edmar Bacha, No País dos Contrastes: Memórias da Infância ao Plano Real. Rio de Janeiro: Intrínseca/História Real, outubro 2021.

Fernando Henrique Cardoso, “O Plano Real: da descrença ao apoio popular”. Em: F. H. Cardoso, A Arte da Política: A História que Vivi. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, págs., 137-222.

Maria Clara do Prado, A Real História do Real: Uma Radiografia da Moeda que Mudou o País. Rio de Janeiro: Record, 2005. Reeditado com o título: A Real História do Plano Real: Uma Moeda Cunhada no Consenso Democrático. eBook Kindle, 2020.

Miriam Leitão, Saga Brasileira: A Longa Luta de um Povo por sua Moeda. Rio de Janeiro: Record, 2011. 

Carlos A. Sardenberg, Aventura e Agonia: Nos Bastidores do Cruzado. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

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