Procura
Procura
Hospedado por
pedro.paulo

Persio Arida formou-se em economia pela FEA-USP e obteve seu Ph.D. pelo MIT. Deu aulas na FEA-USP e na PUC-RJ. Foi pesquisador do Institute for Advanced Studies (Princeton), do Woodrow Wilson Center (Smithsonian, Washington), do Centre for Brazilian Studies (Oxford) e da Blavatnik School of Government (Oxford). 

Trabalhou por duas vezes no setor público federal. Foi Secretário de Coordenação Econômica do Ministério do Planejamento (Seplan) e diretor do Banco Central nos anos 1985 e 1986; foi Presidente do BNDES e Presidente do Banco Central nos anos 1993 a 1995. 

Trabalhou por mais de 30 anos no setor privado. Foi membro do Conselho de Administração, Diretor ou Chairman das seguintes companhias ou instituições financeiras: Brasil Warrant, Unibanco, Sul- América, Vale, Opportunity, Itau e BTG Pactual, entre outras. 

Escreveu vários artigos em jornais e revistas especializadas, no Brasil e no exterior. Os mais citados são “A História do Pensamento como Teoria e Retórica” (1983), “Inertial Inflation and Monetary Reform”, o Plano Larida, escrito em co-autoria com André Lara Resende (1984) e Rakudianai (2011). 

Atividades pró-bono atuais: É membro do Conselho de Administração do Hospital Sírio Libanês e da Fundação OSESP. É membro dos Conselhos Consultivos da MIT Foundation, da Blavatnik School of Government e do Fundo de Pensão do FMI. É membro do Conselho Acadêmico do Livres e Presidente do Conselho Consultivo da Sempre FEA. 


Resumo:

O Instituto de Estudos de Política Econômica, Casa das Garças, recebe o economista e ex-presidente do BNDES e do Banco Central, Pérsio Arida, um dos idealizadores do Plano Real. Pérsio relembra as origens intelectuais do plano, os desafios da implementação, os dilemas de políticas, as reformas modernizantes e a importância da liderança e da persuasão.  

A transposição de experiências: do mercado à gestão pública

A experiência do mundo prático –  gestão de pessoas, de prioridades e o enfrentamento de pressões- são ativos que se adicionam ao expertise técnico em funções de gestão de política econômica. O benefício da experiência também se revela no exame das relações de causa e efeito, já que se aumenta a capacidade de entender o impacto e reações de um anúncio de política sobre grupos sociais.  É importante entender e respeitar o modo de pensar das pessoas, ainda que diante de uma ideia improvável. No mercado financeiro se aprende que para se vender uma política, ter o plano certo não é suficiente, é preciso emitir sinais que as pessoas entendam. 

Proposta Larida: embrião do Plano Real

A hiperinflação na década de 80 foi um propulsor de um fértil debate de propostas sobre o controle da inflação no Brasil. O Departamento de Economia da PUC-RIO era o principal locus dessas discussões. Nesse ambiente, em 1983, Arida escreve e publica um artigo sobre a neutralização da inflação¹, que consistia, basicamente, em sincronizar forçadamente todos os contratos. Ou seja, funcionaria como se o contrato de 6 meses, por lei, virasse o contrato de um mês, porém calculado para se ter o mesmo valor real anterior. No mesmo período, André Lara Resende propunha uma reforma monetária, através da troca do padrão monetário. Houve, então, a fusão das ideias, que culminou no paper Larida. Na época, não houve apelo, tampouco apoio à proposta, o que só viria ocorrer com o lançamento do Plano Real em 1994. 

Plano Cruzado: aprendizado sobre a importância das leis e da política

Sob grande instabilidade, o presidente José Sarney, em 1986, decide implementar um plano de estabilização econômica. Durante os debates iniciais Pérsio aspirava aproveitar as ideias da Proposta Larida. As discussões não passam do estágio inicial; a proposta sofre embargo do jurista e consultor-geral da república Saulo Ramos, que sinaliza o projeto como inconstitucional. Apesar da frustração, permaneceu o aprendizado de que a atenção às leis é tão valiosa quanto a consistência econômica para a elaboração e aceitação de um plano econômico. E um outro aprendizado: “quem tem a caneta manda”. O ocupante da cadeira presidencial é quem terá a palavra final. No Plano Cruzado, por exemplo, o congelamento de preços, idealizado por Chico Lopes, que estava previsto para três meses, foi estendido devido à popularidade trazida ao presidente, o que, não muito depois, trouxe o agravamento da crise inflacionária.  

Além de elaborar, era necessário convencer… 

Não bastava ter bons projetos, tampouco boa intenção. A aceitação de um novo plano monetário, para além da coerência do seu desenho, dependeria também do poder de convencimento sobre os agentes da economia.  A ação de convencimento do Plano Real foi beneficiada pelo pré-anúncio das fases que se seguiriam: o ajuste fiscal, a implementação da URV e o lançamento do Real. A presença da liderança catalisadora e com amplo trânsito no Congresso, de Fernando Henrique Cardoso, foi essencial para a execução e aceitação do programa. 

O legado do Plano Real foi a base para o Brasil moderno

O Plano Real, para além da estabilização da inflação, acompanhou uma extensa agenda de reformas, tais como a quebra de monopólios estatais, com destaque para a privatização da Vale do Rio Doce (1997) e da Telebrás (1998), o avanço na reforma administrativa, a criação das agências reguladoras (governo FHC, 1995-2002) e da lei de responsabilidade fiscal (2000), a modernização do Banco Central e a adoção do sistema de câmbio flutuante (1999). As bases do Brasil moderno foram construídas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e, um pouco antes, com Itamar Franco (1993-1994). O sucesso de um mandato presidencial está atrelado não só à experiência e ao entendimento do que precisa ser feito, mas também ao exercício do papel de liderança e gestão de equipe. 

¹Artigo Neutralizar a Inflação, publicado por Pérsio Arida em 1983 no boletim do Conselho Regional de Economia


Leituras sugeridas:

RESENDE, André Lara. Consenso e contrassenso: por uma economia não dogmática. Portfolio-Penguim, 2020. 

Obs.: recomenda-se a leitura do apêndice C, “Inflação Inercial e Reforma Monetária no Brasil”, de André L. Resende e Pérsio Arida. 

ARIDA, Pérsio. Economic Stabilization in Brazil. PUC-Rio – Departamento de Economia, 1984. Disponível em: http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td84.pdf

ARIDA, Pérsio. Macroeconomic Issues for Latin America. PUC-Rio – Departamento de Economia, 1985. Disponível em: http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td87.pdf

BRUNO, M; FISHER, S; HELPMAN, E; LIVIATAN, N (EE). Lessons of Economic Stabilization and Its Aftermath. The MIT Press, 2003. 

Obs.: recomenda-se a leitura do capítulo “From Inertia to Megainflation in Brazil – Comments”, de Pérsio Arida. 

ARIDA, Pérsio. Observações sobre o Plano Real. Economia Aplicada, Vol.3, 1999. 

CUNHA. Patrícia. Estabilização em Dois Registros. Estudos Econômicos, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ee/v36n2/v36n2a08

História Contada do BCB: Pérsio Arida. Biblioteca do BCB, 2019. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/historiacontada/publicacoes/hc_bc_volume_20_persio_arida.pdf

Últimos episódios

Episódio 4